Palavras à Milanesa

Palavras à Milanesa
Não! Este blog não é de gastronomia. Mas de palavras. À Milanesa. Palavras simples como este prato de arroz com feijão, bife e batata frita.

domingo, 10 de julho de 2011

Ficção

O que seria de nós que escrevemos, não fossem nossas referências, dependências - mesmo químicas - nossos pesadelos - mesmo cínicos, nossas mazelas, amizades, nossas novelas, assembleias, igrejas e nossas falências.
O que seria dos seres que servem ao mundo com sua caneta não fosse o fosso que às vezes se metem, os enrolos, os sufocos, as situações que se repetem. Amores dissolvidos, amores descobertos.
O que seria do leitor não houvesse um suposto ser supostamente mais sofrido capaz de resgatar-lhes a dor e trazê-la para o livro. Levá-lo, então, da Terra ao infinito e ser capaz de traduzir-lhe seus idílios, seus exílios e martírios. Pobre ser este escritor.
O que será de nós, que imprimimos em brancas páginas, ágeis passagens, dores, enroscos, amores, temores e terrores que dão sentido e rimas às histórias meninas das vidas pequenas que nos valem à pena?
Quantas passagens, quantas viagens, quantos livros lidos, publicados, rasgados, quanto passado, quanto presente, quanto tempo, quanto tempo tendo a esperar o futuro, que juro desconhecer?
O que foi o passado, hoje um presente resgatado, impresso, publicado. Nova fronteira, nova coleção na estante.
Por instantes, me confundo. Afundo no prazer do ler, me perco, fujo. O livro é meu refúgio e nele mergulho juntando letras, às vezes modernas, às vezes obsoletas.
Logo volto, respiro. Realidade ao redor, mais material, enxergo tudo melhor, mais mecanismos, contatos humanos, cinismos, egoísmos, racismos, conceitos, preceitos. Tudo junto me alimenta, reuno casos, causas, coisas, canções, nações, nascimentos, placentas, tudo isso mais um liquidificador, cabeça aberta, daqui a pouco um novo escrito, amanhã quem sabe um novo livro que desperta.

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