Palavras à Milanesa

Palavras à Milanesa
Não! Este blog não é de gastronomia. Mas de palavras. À Milanesa. Palavras simples como este prato de arroz com feijão, bife e batata frita.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Baratas, Bueiros, Ratos e Cupins

O pulso ainda pulsa, lembrou-se da música dos Titãs e começou a ler o resultado: “Fígado com forma e dimensões normais, com contorno regular e ecogenicidade difusamente hiperecogênica compatível com esteatose. Ausência de dilatação das vias biliares intra-hepáticas. Duto hepato-colédoco com calibre normal”.
Enquanto ia lendo o laudo, Lauro caminhava pelas ruas de Botafogo, quase que como se brincasse de amarelinha, fugindo dos bueiros assassinos e fazendo unidunitê. Passou pela rua Camuirano, esquina com Voluntários e deparou-se com a cena já comum na cidade. Local isolado, equipes de TV, jornais e rádios, personagens sendo entrevistados, corpo de bombeiros, Light, urgh! Neste instante, passa um filme em sua cabeça.
- E seu eu morrer agora? E se o próximo bueiro explodir bem no meio dos meus cornos?? “Vai que...?” – lembrou-se do comercial da Bradesco Seguros. – “ Só tem Pepsi, pode ser?” Lembrou-se do comercial do refrigerante. Apesar da roleta russa dos bueiros do Rio, ele estava aliviado. Lauro lera no laudo a palavra “normal” uns 3 pares de vezes. Ela vinha misturada a outras palavras bastante estranhas como ecogenidade, colédoco, esteatose, mas ele se convencera.
Tudo parecia bem, com exceção das baratas que insistiam em forçar as tampas dos bueiros, provocando as explosões em série que atormentavam a cidade havia meses. A companhia de energia elétrica, coitada, era quem levava a culpa. Mas na verdade a culpa era dos ratos, baratas e cupins que, em pleno inverno, migravam via subsolo, diretamente do Planalto Central rumo à Cidade Maravilhosa!
E assim, passado o susto inicial de seu exame, Lauro continuou a caminhar entre um bueiro e outro, lembrando-se sempre dos reclames televisivos que ficaram em sua memória e com a certeza de que viveria ainda muito tempo para ver sob os bueiros da cidade os ratos que migravam em busca de um lugar ao sol. Lembrou-se, então, de mais um comercial: “Telefone ao menos uma vez, 2273-7373, Insetfone, fone”.

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