Palavras à Milanesa

Palavras à Milanesa
Não! Este blog não é de gastronomia. Mas de palavras. À Milanesa. Palavras simples como este prato de arroz com feijão, bife e batata frita.

domingo, 29 de abril de 2012

Ofício da Arte

Era um garoto e amava os Beatles mas não os Rolling Stones. Gostava de música, vivia música. Gostava também de escrever. Vivia de escrever. Escrevia para viver, mas queria viver para escrever. Tinha um lirismo na alma, mas também muitas pedras no peito. Subiu morros, desceu aos infernos, cobriu acidentes, cometeu incidentes com a gramática, comeu grama, cobriu tiroteios, festas, favelas, a miséria humana. Escrevia releases como ninguém. Releases, veja bem! Queria ser cineasta, encontrara no ofício de repórter um atalho – talvez um caminho mais longo – para chegar à profissão objeto de seu desejo. “Se o Luiz Carlos Barreto pôde, eu também poderia”, pensou ele. Barretão fora jornalista, repórter fotográfico de O Cruzeiro. “O Cruzeiro..... que revista! Ah se eu tivesse trabalhado lá”, pensou num instante de fraqueza. Hoje, as bancas ( o mercado de trabalho) está repleto de “Tititis” e que tais. “É dura a vida de bailarina”. A vida profissional de repórter de rua o tinha envolvido numa crosta dura e hermética. Acostumara-se com a morte, sem novidades. Era o que via diariamente. Talvez este cotidiano, totalmente diferente todos os dias, mas sempre repleto de novos títulos, lides, manchetes, o tivesse deixado com uma escrita padrão. Uma fórmula pronta. Todos os acidentes na Dutra tinham a mesma estrutura. Era só mudar o número. Entre mortos e feridos salvaram-se tantos..... Ah, mais o que ele queria mesmo era trabalhar com cinema. Com a imagem. Tanto quis que, a certa altura, o destino conspirara a seu favor. Repórter de cinema do caderno de cultura, foi contratado para a função de editor do suplemento. Era a chance que tinha para se aproximar mais do universo que tanto gostava. Quem sabe, esquentaria por uns tempos o lugar, teria visibilidade e seria convidado por um grande produtor cinematográfico para exercer funções mais ligadas diretamente ao ofício da arte de escrever. Escrever pra cinema. Mal começava como editor de cinema, já estava a imaginar-se como grande roteirista, cineasta, coisa que o valha. Queria dar às palavras o significado metafórico que todas elas têm. “O verdadeiro significado”. O significado ampliado pela grande tela que contém seus sonhos. “Era o fim”, pensou. "Ou o início". Adeus à hard news, ao jornalismo de conveniência, de conivência. Aos jabás. Eram 17h. Mal acabava de fechar seu primeiro jornal, cuja capa do Caderno de Cultura trazia seu nome no expediente como editor,quando recebeu uma determinação de comparecer à sala do diretor de redação. “Precisamos de você para cobrir os novos acontecimentos do escândalo do painel eletrônico. Embarca amanhã para Brasília”. Às 21h seu corpo estava estirado no pátio interno do edifício da sogra. No dia seguinte era manchete dos jornais.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Algumas observações sobre os índios no dia deles

O índio é, antes de tudo, um forte! ( com paródia a Guimarães Rosa) A carta do Cacique Seattle, de 1855, ao presidente americano é digna de ser lida. Está na internet e ainda é atual. Uma declaração de amor ao meio ambiente! O filme "Xingu" é imperdível! O livro "Uma Jornada do Tempo", do terapeuta corporal Luiz Filipe Tsiipré, editora Nova Era, da Record, relata a convivência do autor com vários tribos indígenas no Brasil e no mundo, como os Sioux, nos Estados Unidos. Leitura deliciosa! Todo o dia é Dia de Índio!

domingo, 15 de abril de 2012

Chuvas de Abril

Vamos fazer um acordo: Se vierem, que seja com parcimônia. Pra limpar e benzer. Pra tirar o olho gordo, pra satisfazer! Não usem de violência, caiam com paciência. Pensem nos amigos que moram nas encostas. Naqueles que não têm respostas Para a ausência do emprego, do salário, do sustento, da escritura de um apartamento. Chuvas de abril, fechem o mês com a brisa. Sem vento, sem evento trágico. Com a mão de Deus, o mágico dos mágicos!

quinta-feira, 12 de abril de 2012

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Xingu: uma bela viagem cinematográfica ao centro-oeste brasileiro e ao pulmão do mundo

Aperte os cintos da poltrona, respire fundo e se prepare para uma expedição cinematográfica ao centro-oeste brasileiro e ao pulmão do Brasil ou mesmo ao pulmão do mundo. “Xingu”, o novo filme do diretor Cao Hamburguer, com produção da O2 Filmes, estreia agora nos cinemas e vai nos levar a uma viagem mágica pelo interior da Amazônia e do centro-oeste dos anos 40, 50 e 60. Com fotografia deslumbrante e atuações excelentes dos três atores que interpretam os Villas Bôas - Felipe Camargo é Orlando, João Miguel é Claudio e Caio Blat é Leonardo - a história traz um importante recorte de quase vinte anos, desde 1943, quando iniciou-se a expedição Roncador, da qual eles fizeram parte, primeiro como integrantes depois como líderes, até a criação da Parque Indígena do Xingu, em 1961, num decreto do então presidente Jânio Quadros. Longe de endeusar os irmãos Villas Bôas, correta e acertadamente, o roteiro, assinado por Cao Hamburger, Elena Soarez e Ana Muylaert, nos leva a desvendar um pouco das personalidades humanas e por vezes controversas dos três irmãos, seus medos, inseguranças, coragem e idealismo. Orlando, o mais político, que transitava entre os índios e os ministros, era o articulador, nas palavras do próprio Felipe Camargo. Claudio, vivido por João Miguel, o mais idealista. Leonardo, na pele de Caio Blat, o mais jovem do irmãos Villas Bôas, talvez tenha sido aquele que mais conflitos apresentou entre o ser urbano e o ser indigienista . Não à toa, foi desligado da expedição por ter engravidado uma índia, fato que não teria sido bem visto na época, uma vez que os irmãos Villas Bôas tinham, também, um papel de mediadores entre os homens brancos e os índios. No ano que em o Brasil vai sediar a Rio+20, o filme pode ser visto como um documento histórico e uma ode à sustentabilidade. O termo desenvolvimento sustentável foi cunhado pela primeira vez no relatório da ONU, “Nosso Futuro Comum”, de 1987, mas desde anos 40, os irmãos Villas Bôas já demonstraram ter preocupação com a sustentabilidade, pensando no homem com um todo – seja ele branco ou índio – e pensando na sua integração com a natureza, sem esquecer do progresso e do desenvolvimento. Pois foi a custa de muitas enxadadas que eles construíram, com a ajuda dos índios, campos de pouso e bases militares na Amazônia. Construções estas que serviram como moeda de troca para a criação do Parque do Xingu, que tem área equivalente ao tamanho da Bélgica, e que completou meio século de existência no ano passado. “Xingu” é tão bom que, ao acabar, os 102 minutos de filme passam a sensação de que a obra se encerra de repente, de supetão. Mas talvez tenha sido apenas uma impressão, coisa que me mereça uma segunda, terceira ou quarta ida ao cinema para desfazer o conceito. A viagem ao Xingu me fez relembrar minha visita à São Gabriel da Cachoeira, extremo do Brasil, no Amazonas, conhecido como a “Cabeça do Cachorro”, onde tive o privilégio de conhecer tribos como os Tukanos e Baniwas, entre outras, e minha incursão pelo interior da Bahia, onde, outro privilégio, conheci os Pataxós Hã Hã Hãe. Depois de ver o filme, bate a sensação de que o Brasil não conhece o Brasil. Mas precisa conhecer. Taí uma boa oportunidade. O filme é da categoria dos imperdíveis. Vá logo e garanta já o seu ingresso!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Carta-poema-crônica para um velho pai

“Estive em vários lugares e só me encontrei dentro de mim mesmo”, John Lennon. Roberto vivia sem seu pai desde seus quinze anos, quando amargurado com sua vida, o cinquentão fechou sua loja de material de construção no centro do Rio e foi tentar a vida nos Estados Unidos a fim de fazer a América como se dizia. A experiência não deu lá muito certo e o pai de Roberto ficou a ver navios. Atacado por um orgulho ferido e por qualquer eventual medo de rejeição da família que deixou pra trás ou sabe-se lá por quê - especula-se - nunca mais voltou, tendo morrido nas terras do Tio Sam, já como cidadão americano, como sonhava, ou melhor, como sonharam por ele. Poucos meses antes da morte do pai, porém, Roberto, já quarentão e com dois filhos pequenos com aquelas idades nas quais as crianças precisam de um avô, trocou a última das cartas com aquele que a certidão de nascimento dizia ser seu pai. Nela, ao invés de escolher uma narrativa em prosa, pôs-se a escrever um poema. Era a missiva de despedida, mas ambos não sabiam. “Querido pai, depois de sentir tanto a sua falta e por tantos anos, decidi transformar minha melancolia em poema. Espero que o mesmo encontre-o com saúde. Poema a um velho pai Procura-se um pai na estrada da vida: que nos leva, todos, algum dia, à morte. Um pai, procura-se: acha-se, com sorte! Pelos quatro cantos do mundo, nas telas de um impessoal computador. Com a dor imensa de um parto que partiu, que pariu novos horizontes no coração que um dia viu o amor nos tempos de cólera. Procura-se um pai entre as quatro paredes do quarto. Quando durmo, quando sonho e quando deixo meus filhos a sonhar com aquele retrato na estante. Naquele instante e só! E meu pai segue congelado, consagrado pelas bandas que o largam internet a dentro e nos “tecnologizam”. E nos acostumam a navegar, porque é preciso. Procura-se o avô do computador, que é sem nunca ter sido. Virtual, como é sabido, de contatos esporádicos e afetos imprecisos. Vida, Vida, Vida! Caminha com teus passos largos. Não deixa que o arrependimento, a dor e a saudade virem apenas vontade, virem apenas lamento! Ao acabar de dar à luz aquele pequeno poema, Roberto colocou um ponto final no texto. Foi a última carta trocada entre eles.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Fatima Guedes

Ouvir Fatima Guedes é benção pra alma. É intuição pura, no estado da arte, é calma, é melodia. Muita intensa, doce presença, toda a poesia. Noite, dia, todas as estações e fusos. O sol brilha, a lua é sua! Faz escuro, mas ela canta, sempre! Violão, voz de veludo: é tudo! E eu ali, mudo, quieto, repleto, completo por ouvi-la. Sentir Fatima Guedes no palco é um alento, um dilúvio de intensidade plena. É vento, é evento, é cantar o amor sem cantar o lamento. É brisa serena! Ouvir sua voz é transgredir o tempo!

domingo, 1 de abril de 2012

Certeza

O por do sol nos traz o anúncio do nascer de um novo dia no dia seguinte. Mas como tirar do por do sol o nascer de uma nova melodia? É o seguinte: viver dia a dia!