Palavras à Milanesa

Palavras à Milanesa
Não! Este blog não é de gastronomia. Mas de palavras. À Milanesa. Palavras simples como este prato de arroz com feijão, bife e batata frita.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Réveillon







Sob nova direção, leme na mão, o mar agora está pra peixe.
Não se queixe: 2013 está aí, aproveite!
Somos todos juntos no mesmo barco,
Remando a favor do vento que inventamos.

Todos no mesmo tom, na expectativa.
Os convites já chegaram.
A melhor roupa vamos tirar do armário.
E vamos tirar do armário também os excessos, os medos.
A falta de coragem.

Seguir viagem!
A noite que chega do 31 é derradeira.
Disto ninguém se livra! O ano vira para todos e para todos é recomeço.
Não tem parada. Tudo está em pé!
Feliz 2013! O ano novo é o que é!

Encontro das Artes




Procuro a verdade
Que seja dito
popular.
A música que seja pra pular.
O verso que seja livre,
O livre arbítrio.
O leve delito.
A flambada cereja.
O bolo de chocolate.

Procuro a melhor parte
Do ser que seja:
Eu = Você.
O beijo teu que me esqueceu.
Procuro o cinema que seja
conceitual.
O teatro reflexivo.
O Amor explosivo.
O amor calmo.
Sem tudo isso eu não vivo.
Onde está a flecha, cadê o alvo?

Onde está minha canoa?
Com quantos paus se faz uma?
Vou pra Araruama, vou pra Araruama.
Ver se lá eu me arrumo.
Vou de canoa, vou sem rumo.

Procuro a pintura expressionista.
O melhor quadro.
A minha artista, a mulher que eu enquadro.
É você que trago, que respiro.
Você é meu encontro das artes.
Encontro comigo mesmo.
Consigo mesmo. Você eu consigo mesmo.

domingo, 30 de dezembro de 2012

A mulher amada





A mulher amada precisa gostar de vinho tinto seco e da pizza “paulistana” do Bráz. Precisa ter dentes brancos, lábios macios e a alma leve. Deve ficar à vontade ao falar de si mesma. E ter a certeza de que morar no Grajaú é a melhor coisa do mundo. Precisa gostar de Quintana, de quintal e de fruta no pé. Torcer pelo Fluminense e o ter paladar infantil é fundamental. Uma pequena dose de timidez a faz ficar extremamente charmosa.

A mulher amada é simples. E é sofisticada. Tem o sorriso mais lindo e a pele branquinha, suavemente avermelhada, queimada pelos cinquenta tons de cinza do sol da praia de Ipanema. Ela precisa saber que tem pressão alta. Mas que pretende que fique normal. Que quer voltar a fazer exercício e que seu joelho não vai lhe atrapalhar. Ah, precisa aprender a usar o telefone celular. Para emergências. Também precisa gostar de nadar em mar aberto e, de vez em quando, fazer alguma travessia. Com regularidade, muitas travessuras. Estar atenta às fases da lua e ao movimento das marés é de bom tom.

A mulher amada pode até ser uma melancólica otimista, mas nunca o contrário. Por que a melancólica otimista sempre tem uma ponta de esperança. Ela precisa não querer ser beijada na primeira noite, mas ter uma vontade grande de que isso aconteça nos encontros seguintes. Ah, a mulher amada! Dada a receita fica fácil. Ela é tão amada e tão doce que não precisa de nada. Só de ser amada. A mulher amada precisa ser ela, a guiar, como anjo, o coração daquele que ama. Ela é simplesmente adorável. Ou não?





terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Táxi para Folégandros




Era madrugada. O casal caminhava pela rua da Carioca, no centro do Rio. A via estava deserta. No meio do caminho havia pedras. E lixo, muito lixo. E ratos. Eram muitos e se aproveitavam da sujeira humana, de raspas e restos, armando ali mesmo seu banquete. Ao ver os ratos, a moça de vestido branco - branco como a pureza de sua alma - sentiu medo. Pelos ratos e por ela.
O que seria de sua vida num futuro próximo? Agarrou-se, então, ao braço de seu companheiro e ali encontrou conforto. Ficaram em silêncio por instantes e depois riram. Àquela altura da rua da Carioca, aquela hora da madrugada, naquele exato instante, não havia palavras para se descrever o sentimento do mundo. Foi então que ele fez uma pergunta a ela:
- O que você quer da vida?
- Perguntinha difícil - disse ela, respondendo sem responder.
E voltaram novamente para seus pensamentos e reflexões.

Em seguida, a moça de vestido branco, como que rompendo novamente o silêncio, conta então uma curiosidade:
- Sabe que existem pessoas na Terra que são anjos? Todos têm seus anjos da guarda, mas algumas pessoas nascidas em determinadas datas não os têm por que são elas os próprios anjos. Têm o dever de proteger as pessoas, são gênios da humanidade. Esse é meu caso! Como você sabe, o meu aniversário é em 12 agosto. E essa é uma das datas mágicas. Pode procurar na internet – arrematou.
Após 10 minutos, encerrada a pequena história dos anjinhos, acabava a caminhada pela rua da Carioca. O casal chegava à avenida Rio Branco. Ali, fazem sinal e embarcam num táxi. Como destino, bandeira dois, a ilha grega de Folégandros. A viagem seria um pouco longa. Mas lá, naquele paraíso mediterrâneo, estava escrito que teriam dois filhos. Presentes dos deuses gregos. A impressão é de que serão felizes para sempre. No rádio do carro tocava a música “Anjo”, daquele conjunto Roupa Nova: “Fique em silêncio, deixe o amor entrar”.


A música funciona como signo sinal. Ela, então, se lembra de um pensamento ouvido recentemente:

“O mundo pode agora surgir com sua bela singeleza. As flores têm agora o perfume original de sua castidade. A vida é um contínuo chegar de esperanças.”

Já era o dia 22 de dezembro de 2012. Já a Era de Aquários. E o mundo não tinha acabado.


P. S. EU TE AMO.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Para Febea





Espero que esteja bem por aí. Escrevo hoje essas pequenas linhas na forma de homenagem, dedicatória e oração à sua presença que tanto iluminou nosso Planeta Terra em sua breve passagem por aqui. O Sylvio me fala muito de você. Diz que tem saudades. Ele diz também que vocês foram muito felizes nos 19 anos de casados aqui embaixo. Ele tem verdadeira admiração por você. E isso é bonito de ver. As meninas estão ótimas. Ouço falar que no início foi difícil pra elas. Não seria diferente. Você foi uma mãe maravilhosa, presente. Você foi um presente. Você é! Tenho certeza de que está orgulhosa das belas e fortes mulheres em que se transformaram as suas pequenas. Você também deve estar orgulhosa por ser avó. Seus três netos são pessoas muito especiais: Ligia, Manuela e André. Três italianinhos. Oh, raça forte! Você lembra de quando teus últimos dois netos nasceram? Você se lembra da Dani, amiga-irmã das meninas? Pois não é que a Isabella, a Gabi e a Dani tiveram filhos em sequência, num espaço de 21 dias entre o nascimento de seus bebês? O Sylvio me disse que uma vez você comentou com ele que quando a Isa engravidasse, a Gabi também engravidaria logo em seguida. Ou vice-e-versa. E aconteceu. E Dani, então? Sabe que aquela viagem que você organizou pra ela ir à Itália com a Isabella deu frutos? Você nem imagina. Ela virou professora de italiano. Ou melhor, sei que você imagina. Sei que está vendo tudo aí de cima sim. A casa de Itaipava está lá do mesmo jeito que você deixou. A única diferença é que o Sylvio construiu um chalé, como você deve acompanhar. De resto, está tudo está aqui, igualzinho. Apenas se passaram alguns anos. Mais precisamente 26 anos. Foram longos, mas passaram. Ah, e sabe o livro do Salinger que o Sylvio te deu em 1966, em Milão, quando vocês eram namorados, com uma linda dedicatória? Encontramos ele. Faremos uma reunião para celebrar você em torno dele. Vai ter um monte de gente legal aqui que vai te conhecer um pouquinho. Benção, Febea. Fica com Deus! Ci vediamo!

Rio de Janeiro, 6 de novembro de 2012, Planeta Terra.

domingo, 28 de outubro de 2012

Arquitetura






Arquitetura






Conjugado num apartamento
amor deixa de ser vento.
Passa a ser casa.
Passa a ser chão.
Passa a ser asa.
Deixa de ser brasa. Passa a ser fogo.
Fogão, brasão, cama e mesa.
Deixa de ser escassez. Passa a ser riqueza.
Lucidez.
Deixa de ser sonho. Vira teto.
Deixa de ser ideia. Vira concreto.
Parede com parede.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A Metáfora da Chegada





Há de raiar um novo dia. Mesmo que a esperança se transforme em poesia. Jesus Cristo já sabia. Muitos lhe virariam as costas. “Pedro, Pedro, ao cantar do galo tu me negarás três vezes”, assim ele dizia, assim confirmou-se. E aconteceu com José e Maria. Quando o Menino-Deus dentro da barriga da mãe ia, o casal procurava um hotel em Belém de Nazaré onde desse à luz Maria. Um pouco de conforto era justo com forasteiros cansados em busca de hospedaria, em busca de revelar o Messias. Há de raiar um novo dia. Jesus Cristo já sabia.

No entanto, os insensíveis donos de hotéis da cidade de Belém julgaram o casal, como sempre os humanos fazem. Donos de hotéis são humanos: preconceitos e arrogâncias trazem. E julgaram o casal de forasteiros pela aparência. Eles, os donos de hotéis, acharam que José e Maria não eram dignos de dormir em suas luxuosas camas, de se secar com suas caríssimas toalhas. Homem, homem! Todo homem tem falhas. A pouca fé é uma delas. Não espalha. Às vezes o fogo é só de palha. Mas voltando aos donos de hotéis, eles tiveram pouca fé. Com certeza. Duvidaram, sem certezas. Foram omissos.

Acreditar. Basta acreditar. O melhor acontece. Deixa estar. Deixa na sala de estar. Deixa na estrebaria. Jesus Cristo já dizia. Na manjedoura nasceria. Em condições precárias, mas nas condições que merecia. Há de raiar um novo dia. Jesus Cristo já sabia. Jesus Cristo perdoou os pobres donos de hotéis que não gostavam de poesia, que a seus pais negaram moradia. Ele disse: faça-se a luz e a luz se fez. Ontem, hoje e sempre, de uma só vez. A metáfora da chegada é a mesma da partida. Por que chegada sem partida é incompleta, é vazia. É ciclo que não se fecha. O melhor acontece pra cada um. Somos Um. Jesus Cristo já sabia.

Cinquenta Anos em Cinco





Diretor completa 50 anos de carreira preparado para mais 50



Cacá Diegues é um ilustre representante da boa safra do outono de 1940 das Alagoas, onde nasceu na capital do Estado, Maceió. Dono de uma fala pausada e gentil, Cacá é um dos maiores nomes do cinema nacional. Ao lado de cineastas como Glauber Rocha como um dos criadores do Cinema Novo, Cacá segue empunhando sua câmera e lançando seu olhar de cronista audiovisual sobre a realidade brasileira.

Em 2012 o cineasta completa 50 anos de carreira, desde que lançou seu primeiro longa “5 X Favela”, em 1962. O bom momento foi no celebrado no último dia 15 de outubro, quando ele foi homenageado pela 11ª edição do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, promovido pela Academia Brasileira de Cinema, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

“Me sinto muito novo para receber esta homenagem. Mas ao mesmo tempo é uma honra pois ela vem do reconhecimento dos meus pares, cineastas”, disse Cacá, ao final da cerimônia. “Vou filmar até meu último suspiro”, completa ele que assina ao lado da mulher, Renata de Almeida Magalhães, a produção do filme “5 X Pacificação”, documentário sobre as UPPs, lançado pela Luz Mágica, empresa do casal, previsto para entrar no circuito em novembro. Entre um filme e outro - Cacá também produziu “Giovanni Improtta”, dirigido e interpretado por José Wilker, baseado no personagem do novelista Agnaldo Silva – ele dirigiu o clip Kamasutra, que integrou o 27º álbum da carreira do Tremendão Eramos Carlos, recentemente lançado. “Foi uma experiência excitante e prazerosa" , confidencia Cacá.

E como 50 anos de carreira no caso do cineasta não é sinônimo de aposentadoria, no ano que vem ele roda o filme “ O Grande Circo Místico”, baseado no poema de Jorge de Lima, que virou peça de teatro e, em 2013, vai se transformar em filme, 30 anos após a montagem do espetáculo. A trilha sonora também será assinada por Chico Buarque e Edu Lobo e o papel principal, convite feito, convite aceito, será do ator Lázaro Ramos. Mais uma produção da Luz Mágica.

O sucesso por detrás das câmeras e a produção audiovisual contínua têm seu nome nos créditos nas telas de Cacá. Há 31 anos, ele é casado com a produtora Renata de Almeida Magalhães, filha do advogado e político brasileiro, Raphael de Almeida Magalhães, falecido no ano passado. Juntos, os dois tiveram a filha Flora Diegues, 25 anos, a única dos três filhos de Cacá que seguiu os passos do pai. Os outros são Isabel e Francisco Diegues, filhos da união com a cantora Nara Leão. Isabel dedica-se à sua editora Cobogó e Francisco tem uma empresa de tecnologia. A outra “filha” de Cacá é Julia São Paulo, do primeiro casamento de Renata, mas praticamente criada pelo diretor e produtor de cinema. Sobre a esposa, ele diz: “A Renata mudou a minha vida. Somos casados e sócios. Ela manda em mim em casa e na rua”, brinca. E para Nara Leão, de quem ele se separou 12 anos antes da morte da cantora, em 1989, Cacá só tem elogios. “Nara foi uma das grandes mulheres brasileiras de seu tempo".

E assim, rodeado pela família e cheio de projetos, Cacá Diegues vai comemorando 50 anos de carreira. “Me sinto oxigenado e pronto para mais 50 anos”, finaliza. E já que o número do momento de Cacá é o “cinco”, são cinquenta anos em cinco, como dizia o slogan da campanha do ex-presidente Juscelino Kubitschek.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Tio és también padre





Un tío tan cerca como se quiere.
y que se vá.
A lo lejos, en un instante, distintamente.
Hacia a debajo de tierras latinas, altiplanas, hermanas.
A juntarse a la pachamama.
Si, son tierras bolivianas.
Tío, tío, tío también és padre.
Tío con la misma sangre, de la misma raza.
Del mismo compás y dibujo.
Tío, te lo juro:
otras dimensiones te abrazam para seguir tu viaje.
Otras encarnaciones.
Lleva en tu equipaje
nuestra ultima cita el La Paz.
El último CD de jazz.
El último bolero.
Eso espero.
Tio querido, hasta siempre, hasta pronto.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

No Metrô






Desço as escadas rolantes.
O coração bate forte,
ofegante.
No outro lado da estação,
na linha do horizonte
ali defronte, ao norte.
A felicidade me sorri, diz adeus.
E foge.
Oh, meu São Jorge,oh, meu São Jorge.
É a morte, é a morte,
meu Deus!

No Cinema





Desvio o olhar.
Você não me beija.
A melhor parte do bolo é a cereja.
Mas essa eu não tenho.
Me contenho.
Você me olha sem graça.
Eu, sem ação.
Por que caminhos passa
o meu coração?

TIO TAMBÉM É PAI




Um tio tão próximo que se vai.

Distantemente, num instante, instantaneamente.

Pra debaixo de terras latinas, altiplanas, hermanas.

Terras bolivianas.

Tio, tio, tio também é pai!

Tio do mesmo sangue, da mesma raça.

Do mesmo compasso e desenho.

Tio, tio, tio que já não o tenho.

Outras dimensões te abraçam pra seguir sua viagem.

Outras encarnações.

Leva na bagagem

Nosso último encontro em La Paz.

Leva na bagagem o último jazz, o último bolero.

Até sempre, até mais!

Assim espero.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Amor Distraído






Sem resposta, fiquei sem resposta.
Como a mesa que é posta sem poder desfrutar.
Como o poder e o não poder concretizar.

Fiquei sem a resposta da menina.
Que me deixou na esquina,
sem dó, nem piedade.

É melhor não falar nada.
Do que dizer a verdade.
É a sua filosofia.
A indiferença é a pior das ironias.
E o que não passou já é página virada.

Sem resposta, fiquei resposta.
Não dá mais, perdi essa aposta.
De quem será que a moça gosta?
Coração já ocupado, coração já ocupado.

Sua resposta foi a indiferença.
Cheque que não compensa.
Amor descartado, devolvido.
Distraído, amor distraído.


Distraído, amor distraído, destratado, desvalido.

sábado, 13 de outubro de 2012

Eleonora Falcone: a singeleza da música popular brasileira e paraibana




Cantora se apresenta no Projeto “Levada Oi Futuro” hoje à noite em Ipanema




Coloque-se uma cantora com tipo mignon, de timbre doce e ótima extensão vocal num local intimista, palco bem iluminado, acompanhada por três músicos elegantes e competentes (Anderson Mariano – guitarra e violão, Adriano Ismael – baixo e Flávio Boy – bateria e pandeiro) e à frente um público ávido e saudoso após 11 anos de ausência da referida cantora das casas de shows cariocas. O resultado é um belo espetáculo de Eleonora Falcone, cantora e compositora paraibana, que participa até hoje, sábado, do projeto “Levada Oi Futuro”, na casa em Ipanema.
Falcone, que já morou no Rio, por razões que o coração desconhece andou anos afastada das terras cariocas. Imperdoável ausência que, com apoio do Oi Futuro, a Zucca Produções, mais Jorge Lz e Roberto Guim

arães, curadores da iniciativa, reparam agora por meio do projeto de trazer sons e artistas de diversas partes do Brasil para o coração de Ipanema, a preços populares ( R$ 20,00).
Ao longo da pouco mais de uma hora de show, Eleonora brinda o público com belas canções de “MPB da P”. Ou seja, uma música popular brasileira vinda autenticamente da Paraíba, com teor romântico e confessional. Quase como se fossem ( e são) pequenas crônicas poéticas, com uma pitada da “nordestinidade” evidentemente presente em sua atitude no palco e no orgulho que demonstra do “ser paraibana”.
Eleonora promove de modo sagaz o encontro de sua MPB da P com a MPB por meio de várias das canções do repertório de seu show. Entre elas “Duas Margens”, de Chico César e Lucio Lins, música que batiza o espetáculo. No show ela mistura músicas de seu álbum carioca “Apetite” com outras de seu CD paraibano “Eu tenho um pedaço de sol que guardo comigo desde menina”.
Pode-se afirmar que Eleonora é uma artista quase completa. Além de boa cantora, é boa compositora. Entre algumas das músicas d show, destacam-se “Carta de Amor” e “Pedaço de Sol” ambas com Lúcio Lins. O verso “Eu pulava muros e sonhava nuvens, eu saltava mundos e contava estrelas. Eu dizia tê-las na palma da minha mão”, da música “Pedaço de Sol”, é absolutamente lindo. A parte do fino trato com as palavras e da construção de belas imagens poéticas, a cantora tem presença e atitude cênicas no palco, resultado dos anos em que estudou teatro no Rio, e um olhar penetrante e forte que dirige ao público quando desce à plateia na busca de um contato mais próximo com seus interlocutores.
Não é à toa que nomes como os dos cantores Ney Matogrosso são fãs de Eleonora. O produtor Ronaldo Bastos, da Dubas, que edita suas músicas, estava emocionado em ver o reencontro de Falcone com os palcos cariocas: “Sou fã da Eleonora. É um privilégio poder vê-la novamente aqui no Rio de Janeiro”, disse Bastos ao final do show de sexta-feira. Eleonora Falcone é a singeleza da música popular brasileira da Paraíba em pessoa e “em cantora”. Show imperdível. Vá correndo que ainda dá tempo. É hoje à noite no Oi Futuro Ipanema.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Soneto das Crianças


Livremente inspirado e parodiado do Soneto de Fidelidade
(de Vinicius de Moraes)


De tudo à minha criança serei atento.
Sempre e com tal zelo
que vou me lembrar das viagens infantis para Arcozelo.
E das brincadeiras que inventei e que ainda invento.

Quero viver a criança em mim em cada vão momento.
E em seu louvor hei de espalhar meu canto.
E rir meu riso e nunca, jamais,derramar pranto.
Por que tristeza não se põem na mesa, se não me levanto.

E assim, quando mais tarde me procure a criança que um dia fui.
E eu, de puro sentimento, jure.
Que o passado deixei pra trás e é o amor que em mim flui.











For a Child







For a Child


Quem é você que eu não conheço mas que é uma criança?

Quem é você que é pequeno e nunca perde a esperança?

E que é grande e vai sempre na minha lembrança?

Quem é você que sempre entra na dança?
Pula corda, dá as cartas, joga o jogo.
Sempre com sorriso no rosto.

Quem é você que me aborda no sinal fechado?
Que me pede trocados e vai embora.

Tio, eu sou a criança que chora, a criança que vale.
A esta hora exactamente hay um niño en la calle, hay un niño en la calle.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Sobre Escadas, Memórias e Outros Planos





Meu nome é Theobaldo. E nas minhas memórias de infância e juventude tenho registrado que usei e abusei de escadas. Na infância, morávamos num apartamento térreo, em Copacabana, mas nosso prédio tinha uma longa (para mim à época) escada, que dava acesso da rua ao primeiro andar, onde ficavam os apartamentos térreos. Assim, eu não tinha outra alternativa que não subir pelas escadas (longas para mim à época) que davam acesso ao nosso apartamento. Eram outros tempos, e eu tinha fôlego pra isso.

Mais tarde, eu cresci, mas continuei usando as escadas para ter acesso a outras portas dimensionais. No caso, a porta do apartamento do meu pai, na Glória.. Ele morava numa cobertura. O elevador só ia até o 12º andar e nós precisávamos subir mais um lance (longo para mim à época) de escadas. O prédio era antigo. O elevador mais ainda. Não foram raras as vezes em que chegávamos e o elevador estava parado para manutenção. E como era cobertura, só tínhamos um elevador que nos servia. E aí não restava outra opção que não subir os treze andares de escada. Eram outros tempos. Eu tinha fôlego pra isso.

Mais tarde ainda, as escadas continuaram presentes na minha vida. Sempre que eu queria alcançar outras dimensões, eu me conectava com as escadas. Eu tive uma namorada que morava no Grajaú. O prédio dela eram dois apartamentos por andar. Uma noite, chegamos à casa dela bastante animados por assim dizer. Como tínhamos certeza de que os vizinhos do lado não estavam, começamos “os trabalhos”, se é que me entende, ali mesmo no hall, nas escadas de serviço do andar dela. Foi uma experiência incrível. Fui a outras dimensões, fomos às nuvens. Até então, eu era um pouco travado pra essas coisas, mas depois desse dia, eu me libertei. Libertei a literatura que estava em mim e o sexo também. Tinha toda uma energia sexual dentro de mim prestes a explodir. E explodiu. Eram outros tempos. Eu tinha fôlego pra isso!

Bem mais tarde ainda, eu me casei. Na vida de casados sempre moramos em andares baixos, tipo até o segundo piso. Assim, eu dava preferência para usar as escadas a fim de ter acesso aos apartamentos em que moramos nos diferentes períodos do nosso casamento. Os três filhos vieram e eu ensinei isso pra eles: “Usem sempre as escadas”, eu dizia. E ia junto com eles, acompanhando-os no subir e descer lépido e fagueiro infantil. Eram outros tempos e eu tinha bem mais fôlego pra isso.

Bem, bem mais tarde ainda, eu me separei. Mas continuei subindo e descendo escadas. Como os antigos incas, eu acredito que escadas são a única forma de atingir ao plano divino. Eu ainda não atingi este plano, mas estou no caminho – e pelas escadas. O tempo passou. Juntei o elemento “chave” às escadas. Afinal, elas podem de fato até nos levar a novos planos dimensionais, mas se você não tiver “a” chave, não vai adiantar nada. Vai chegar e ficar ao relento, do lado de fora e sabe-se lá em que dimensão. Estou em busca do ágape, o amor universal. E em outra dimensão. Vou pelas escadas. Afinal, são outros tempos. Tenho muito fôlego pra isso.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O Chato Simpático








Quem é esse chato, o assessor de imprensa? Há de ser uma pessoa que goste de acordar cedo, mas não tão cedo. Para assim tomar contato com a notícia, por meio dos jornais, antes de todos. Não precisa ser um fanático pela notícia. Mas é preciso que corra atrás dela, que a valorize. Estar antenado com tudo o que se passa à sua volta, na pequena e na grande esfera, é uma condição importante. Para ser um bom assessor de imprensa é preciso ler diariamente os principais jornais e saiba quem são as pessoas que estão do outro lado, na redação. É importante que tenha boa memória, que cumprimente o repórter e o editor pelo nome ( desejável).
Precisa também ser persistente. Mais do que o repórter. E saber conquistar sua confiança com boa conduta e boa índole. É necessário que saiba a hora certa de ligar para as redações. Nunca nas horas de fechamento. Precisa também ter noção do que é uma nota para não oferecer bobagens para o colunista e não queimar a si e a seu cliente. Precisa demonstrar boa educação, saber abordar e saber, sobretudo, ouvir um “não”. E quando houver espaço retrucar esse “não” e saber reverter o quadro.
Com o mercado profissional enxuto, às vezes com poucas opções nas redações, não é mais urgente que passe por uma grande redação. Com a difusão das assessorias de imprensa é cada vez maior o número de universitários que se formam e vão direto trabalhar numa assessoria, seja ela uma empresa especializada na área, ou mesmo uma grande empresa que dispõe de um departamento de imprensa.
Mas fique tranquilo se você não tem todas essas características. Tudo na vida é uma questão de treino.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Foi-se o inverno





Este inverno foi dose. Dose pra leão, pra mate leão e nem foi essa coca-cola toda. Dose foi também ter que matar mais de um leão por dia, pagar as contas com atraso e conviver com a carestia. Foi o inverno da foice, do vergalhão ou de qualquer instrumento pérfuro cortante, contundente que despenca rumo à cobertura de carne do trabalhador civilizado. Entre mortos e feridos, salvaram-se alguns. Pelo menos os três cidadãos que foram atingidos ou atingiram vergalhões enquanto labutavam, lutavam pelo ganha-pão ou soltavam pipa. Milagre. Pode-se assim dizer. Outros dirão que não foi chegada a hora. O fato é este inverno também foi o inverno dos acidentes dos BRTs na Transoeste. Seja lá o que significa BRT ( parece sigla de partido político sem o “p” de partido), parece que as pessoas têm andado apressadas demais . Demais da conta. E no final das contas, vão ter que acertá-las mesmo é com O cara lá de cima. A pressa é inimiga da perfeição. A pressa mata! Não mate leão, não mate! A pressa passou apressada e mandou lembranças. Passou a mais de 100 por hora e atropelou a esperança. Não deixe que sua pressa atrapalhe sua esperança e mate a si mesmo no meio do caminho. Pois se no meio do caminho tinha uma pedra, vamos removê-la, vamos largá-la. A via é larga, mas passa um de cada vez. Vamos juntos que atrás vem gente. Avante. Agora chega a primavera. Prima irmã do verão, que antecede. Vamos com prudência, sem pressa demais, sem muita sede ao pote, apenas esvaziá-lo e tornar a enchê-lo. Com paciência e zelo. Viva à primavera! Melhores dias agora, melhores dias no verão, melhores dias virão!

domingo, 16 de setembro de 2012

O beijo






O beijo nu.

O beijo nu espalha suas marcas pelo espelho.

O beijo nu espalha seus segredos pelo espelho da cômoda que não se incomoda.

O beijo vira moda.

Moda de viola.

O beijo viola os sentidos.

O beijo, crente que é gente, não me dá ouvidos.

domingo, 12 de agosto de 2012

Não Basta Ser Filho



Eles são filhos e trabalham com os pais


Parodiando o comercial, muitas vezes não basta ser filho. Tem que participar. Muitos filhos têm acompanhado os sonhos profissionais de seus pais, transformando-os em seus próprios sonhos. E em sua maneira de ganhar a vida.

Aos 30 anos, formado em comunicação social pela UniverCidade, René Wegner é um exemplo disso. Formado em 2005, ele mal deu as caras à profissão que escolheu antes do vestibular. Assim que se formou, largou o estágio em marketing num shopping do Rio. O movimento coincidiu com o fato de seus pais abrirem, naquele ano, a Hidrovida – Atividades Aquáticas, na Gávea, uma academia de natação para adultos e crianças, que tem ainda hidroterapia, hidropilates, atividades voltadas para gestantes, entre outras.

Desde então, já são sete anos que René administra a Hidrovida, ao lado seu pai, o engenheiro civil Ronaldo Wegner, e da mãe, a fisioterapeuta e professora de educação física Sandra Jabur Wegner, que é a coordenadora geral do centro de atividades aquáticas.

Para René, o principal desafio é separar a vida familiar da profissional, tanto na Hidrovida, quanto em casa. “Há 3 anos decretei que não teria mais jantar de negócios às 22h, no sofá da sala".

No ramo da cultura e das letras, a história mais ou menos se repete. O professor de literatura brasileira no ensino e da universidade de teoria literária, Carlos Afonso garante que não se afastou da sala da aula há quase 20 anos, quando fundou a Toca do Vinícius, primeiro numa galeria na rua Visconde de Pirajá, tendo migrado depois de um ano e meio para a rua Vinicius de Moraes.

“A Toca é um projeto pedagógico e educacional. Hoje, sou mais educador do que quando estava numa sala de aula”, destaca Carlos. Seus filhos, hoje na faixa dos 30 anos, já eram adolescentes quando Carlos Alberto e sua esposa Natalina abriram Toca. Aline, Leila e Carlos ( filho) que passaram agradáveis anos atrás do balcão da Toca, hoje de certa forma ainda trabalham com seu pai.

Leila, a primogênita, administra, ao lado de seu primo, a livraria Bossa Nova & Cia, no Beco das Garrafas, em Copacabana, que é um desdobramento da Toca. Cacá, o filho, é hoje professor de literatura em Berlim, na Alemanha, seguindo os passos de pai, e Aline, a filha do meio, formada em comunicação social, que também mora na Alemanha, trabalha como web designer e é responsável pelo site da Bossa Nova & Cia, entre outros materiais gráficos da Toca do Vinícius. “Trabalho hoje com minha filha pelo skype”, diz o pai gaiato.

sábado, 4 de agosto de 2012

Quem Tem Medo de Taumaturgo Marona?






- Alguém aqui conhece o senhor Taumaturgo Marona? Embora possa parecer embaraçosa, a pergunta faz-se necessária nesse interrogatório. Ele é um cidadão que representa perigo à sociedade, uma pessoa claramente má. Isso já é perceptível para todos nessa delegacia, que a partir de agora o considera um foragido da Justiça. A última vez que o elemento foi visto, ele caminhava pelo centro histórico da cidade de Paraty, na costa verde do Rio de Janeiro, em atitude suspeita, relatou o delegado.

Marona lá esteve para lançar, dentro de festejado evento literário, seu livro: “Autobiografia de um Iogue – O pegador da Travessa” ( editora Oito e Meio). O projeto de galã estava lá ainda para paquerar as meninas e – dizem as línguas mais ferinas - também alguns meninos do Clube da Leitura, festejado coletivo que se reúne quinzenalmente com objetivo de ler e escrever contos e falar da vida alheia.
Tal e qual um conhecido jornalista, que acaba de lançar um livro no qual narra histórias com amigas reais e ficcionais, Marona repete a fórmula transpondo-a para sua autobiografia, citando nominalmente alguns integrantes do Clube da Leitura, com quem, jura, já teve alguma coisa.

No livro, estão os personagens Danielle Aguiar, Juliana Costa, Ana Claudia Goldschmidt, Maira Ribas, Loana Calomeni, Daniel Fernandes, George Preger, Guilherme Patiño e Julio Matos, todos integrantes do clube dos que já tiveram alguma coisa com Taumaturgo Marona. Num trecho da obra, a personagem de Danielle Aguiar assegura que Taumaturgo Marona é uma pessoa popular. – Ele é mega popular, diz ela toda animadinha. A personagem de Ana Claudia Goldschmidt, por sua vez, diz que o conhece sim e que ambos já ficaram numa das festas do DJ Acaro. Como a personagem de Ana Claudia estava em busca de um namorado que fosse atleta, ela se encantou por Taumaturgo Marona, que além de iogue e vendedor de livros, pratica natação em mar aberto.

Em outro trecho do livro de Marona, a personagem de Juliana Costa narra que conhece sim o autor e que ele seria amigo de um ex-namorado seu. Segundo ela, “rola papo”. Mas não é isso que vocês podem estar pensando, pois o personagem de Juliana Costa é muito fiel e comprometido com seu namorado. Outro personagem, o personagem de Daniel Fernandes se apressa em dizer, no livro, que em breve a editora Oito e Meio vai lançar o próximo livro de Taumaturgo Marona: será um livro com todos os tipos de receitas com pamonha. Como se sabe, aliás, o personagem do Daniel Fernandes trabalha na editora Oito e Meio e repete isso como um mantra em todos os eventos dos quais participa.

Na parte do livro a ele dedicada, o personagem de Guilherme Patiño, como se insinuasse que existe algo no ar, maldosamente destaca que, apesar de vários integrantes do Clube afirmarem conhecer Taumaturgo Marona, “ele, o Marona, se lembrou mesmo foi do Ribas”. Algumas páginas à frente, o personagem de George Preger levanta a possibilidade de Taumaturgo Marona ser filho do detetive Mauro Marona, vulgo Mauro Fofoca. O personagem de George Preger chegou a essa conclusão simplesmente pelo fato de o sobrenome Marona não ser muito comum. Mas enfim, após a suposição levantada pelo personagem do Preger, na sequência os personagens de Julio Matos e da Maira Ribas lavam as mãos e afirmam veementemente que não conhecem Taumaturgo Marona. E nem mesmo o pai dele. Por fim, a personagem de Loana Calomeni faz a linha curta, grossa e seca: “Declaro que não conheço Taumaturgo Marona.” E aí chegamos ao final do livro.

Corta para o serviço de escuta da delegacia:



“Atenção Atenção, uma viatura desta DP acaba de passar um rádio informando que o foragido Leonardo Marona foi detido em Paraty, mesmo lugar onde fora visto recentemente. Ao ser preso, o escritor, vendedor, iogue e atleta declarou que estava na cidade apenas para, por sugestão de seu editor Daniel Fernandes, pedir autorização ao jornalista Garton Ash para usar uma frase de seu livro “The File”, “Se pelo menos eu tivesse encontrado em toda essa busca uma única pessoa claramente má”, como epígrafe de seu próximo lançamento”. Definitivamente, Marona não é má pessoa. Quem tem medo de Taumaturgo Marona?

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Rodrigo Otávio





Um prédio antigo, de quatro andares, sobre pilotis e vagas para os carros numa garagem meio improvisada. Ficava na avenida Rodrigo Otávio, bem ali na Gávea, no Rio de Janeiro. De frente pra praça com grandes e frondosas árvores que nos recebiam generosamente todos os dias. Tinha sol da manhã e vista para o Cristo.

Apartamento pequeno, dois quartos. Mas as crianças sabiam usar cada espaçinho daquele imóvel. Tinha até o pedaço de um cômodo adaptado, que se transformou para a Fernandinha e o Fernandinho no que, carinhosamente, eles chamavam de “varandinha”. Uma espécie de play interno com dois metros por dois se minha porção arquiteto não me engana. Ali cabia de tudo e todos os sonhos deles estavam lá depositados.

Nunca vou me esquecer daquele apartamento. Foram 6 anos. Uma vida. Uma vida como a do Nandinho, de 6 anos. Foi ali, na Rodrigo Otávio, que o Nando deu seus primeiros passos. Tirou a fralda, deixou de fazer xixi na cama, mudou de escola duas vezes e se transformou num rapazinho. A Nandinha, quando lá chegou, era uma esperta mocinha de 4 anos. No curso dos acontecimentos, ela se transformou numa “moça” esplendorosa, desabrochando para a vida, com 10 anos, completando sua primeira década vencida, de muitas outras se Deus quiser.

Quantas e quantas vezes Fernandinha e Fernandinho saíram pra brincar na pracinha de frente do prédio com as crianças da vizinhança. Nós literalmente ocupamos a praça. Fizemos faxina na praça, varremos a praça, cuidamos da praça. As crianças vão levar isso com elas. Quando crescerem, elas poderão se orgulhar de terem ocupado uma praça. Nem todos têm o privilégio de terem uma praça em frente ao prédio em que moram. Elas tiveram. E como é bom.

Os anos passam rápido. Eu ainda me espanto. No entanto, o passar dos anos nos brinda com o prazer e a possibilidade de ver os filhos crescerem. De ver, também, em nós mesmos as transformações que a vida nos impõe e as transformações que impomos à vida. Afinal de contas, estamos num jogo. Ora a vida cede, ora cedemos à vida. E o mais importante é que nesse jogo não há perdedor. Sigamos, assim, em busca de transformações. Sigamos em busca de uma praça para nossos filhos e nossas crianças brincarem e crescerem. Obrigado Rodrigo Otávio!


*Em tempo: Pouca gente conhece a avenida Rodrigo Otávio, embora muitas pessoas passem por ela diariamente e não saibam seu nome. É aquela avenida que tem suas duas pistas divididas por uma praça e pela qual todos que vêm do Jardim Botânico em direção à Barra, no Rio de Janeiro, precisam passar.

domingo, 15 de julho de 2012

Tema para um Lindo Dia

Clarear, esclarecer. Aprender pela cartilha da vida! E pela paz! Desobstruir, encorajar, agir! Clarabóia: entrada de sol, estrada de luz. Deixar o sorriso passar, estampar felicidade no rosto! Botar roupa nova todo o dia, estar de bem com a vida. No doce balanço da harmonia. Vestir branco, ver à cores, Tornar os dias mais bonitos, querer bem! Sorrir para todas as manhãs, mesmo as escuras! Dar à luz uma menina Clara, alva e sapeca. Saber ser igual, falar a mesma língua, brincar de boneca. Gostar de criança como de natureza e de natureza como de criança. Nunca se cansar de ter esperança. Nem às segundas-feiras chuvosas! Realizar, entrar na dança, estar no ritmo. No mesmo baticum do coração que ama! Ir ao cinema e ter vontade de voltar, ou de você crescer logo pra ir também. Urgente, urgente, eu te amo bebê! Ver beleza à beça, transbordar, transcender. Estar cheio de coragem pros dias que virão! Trabalhar e ver crescer, semear! Pensar no próximo verão! Deus te abençoe, Clara, tesouro, puro ouro, no teu batismo sagrado.Neste 8 de dezembro, quase Natal, quase nova estação. Que o calor do mundo novo te aqueça sempre e te carregue pela mão! 08.12.2002

sábado, 14 de julho de 2012

Próxima Escala: "América do Sul, uma viagem para brasileiros"

O livro “América do Sul, uma viagem para brasileiros”, ( DBA) da jornalista Márcia Carmo, que há 15 anos atua como correspondente cobrindo a América Latina partir de sua base, em Buenos Aires, é, literalmente um passeio, sem fronteiras e sem a necessidade de passaportes, pelos países hermanos. Das 13 repúblicas que fazem parte da América do Sul, excluídos aí Equador, Suriname e as Guianas Inglesa e Francesa, Márcia compila histórias, curiosidades, hábitos, gastronomia, cultura local e gírias específicas de oito das nações que dividem o continente com a nossa Terra Brasillis - que não está no guia: Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. Todas as histórias narradas tiveram a participação da jornalista em suas viagens a trabalho, nas quais representou veículos como Jornal do Brasil e BBC, entre outros. Um belo serviço prestado ao leitor, que merece incluir os países ausentes numa próxima edição. Com humor, poder de síntese e com conhecimento de causa, já que a autora conhece bastante de cada um dos países retratados, Márcia nos conduz página por página por muitos dos 17.819.100 km² da América do Sul. Nos guia a pontos turísticos, belos e remotos, como as ruínas de Tiwanaku, nas proximidades de La Paz, na Bolívia, que, segundo arqueólogos teve seu auge entre 300 e 1000 d.c. Entre outras paisagens únicas do país de Evo Morales, destaca-se ainda o Salar Uyuni, a 3.600 metros acima do nível do mar, entre os departamentos de Potosí e Oruro. É lá que fica o Hotel de Sal Playa Blanca, que é todo de sal – desde as paredes até a cama. Em outra das passagens do livro, a autora relata, por exemplo, qual teria sido a origem do nome que batizou o país de Hugo Chaves. “Historiadores contam que o nome Venezuela vem de Veneza, na Itália. Ideia do explorador Américo Vespúcio, o qual chegou à Venezuela em 1499, e, ao ver casas de palafita, achou que ali estava uma pequena Veneza”, destaca Márcia no capítulo que aborda a Venezuela. No país, aliás, sempre está tudo “chevere” ( ótimo, legal). Distante algumas horas de voo ou a poucas páginas do livro está o Chile. O país nos remete ao prêmio Nobel de Literatura, Pablo Neruda, mas também remete nossos sentidos aos...vinhos! A vinícola Concha y Toro, a principal do Chile, é também a oitava do mundo em produção. O vinho-símbolo também batiza um bairro da capital Santiago. É lá que fica, num casarão de 1912, o restaurante Zully, de cardápio espanhol, uma das saborosas dicas da jornalista. Ah, e quando você for ao Chile não se esqueça que lá tudo é “al tiro”, ou seja, rápido. Colocando os pés na Colômbia, com as FARC ( Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) perdendo forças e cada vez mais fracas, é hora de bailar. A capital Bogotá foi fundada em 1538 pelo conquistador espanhol Gonzalo Jiménez de Quesada. Um dos lugares da moda, para ver e ser visto, é o Parque 93, praça ajardinada e rodeada de bares, cafés, restaurantes, danceterias e alguns dos principais hotéis da cidade. Mas cuidado ao se locomover em direção ao point. Ao usar o transporte público, não se espante em andar de “buseta”, uma espécie de van. Apenas relaxe, goze a viagem, pague a passagem e curta. Enfim, as curiosidades e dicas de cada um dos países da América do Sul visitados no livro são muitas. Se você está curioso, está na hora de comprar o guia. Ao final de cada capítulo, Márcia Carmo brinda o leitor com receitas típicas e seu modo de fazer. Apresenta, ainda, sugestões de hotéis, lugares para fazer compras, telefones úteis, entre outras informações relevantes. Material para ler, deixar na estante, e servir como fonte de consulta para a próxima e as próximas viagens. Por último e não menos importante, se você acha que o espanhol falado na América do Sul é todo ele igual, está na hora de rever os seus conceitos. Vide as gírias como “chevere”, “al tiro” e palavras como “buseta” , próprias da identidade de cada país. Livro para ser lido, e degustado, ( 151 páginas) com folga, num final de semana. Preço sugerido a R$ 38,00 nas melhores casas do ramo.

terça-feira, 5 de junho de 2012

“Mundo Sustentável 2”: almanaque ambiental para atuais e futuras gerações

No dia em que fui adquirir “Mundo Sustentável 2” ( editora Globo), mais recente livro do jornalista André Trigueiro, o vendedor me perguntou se tratava-se de um título didático. Disse que não e ele me encaminhou à prateleira correta. “Mundo Sustentável 2”, o quarto livro do jornalista - conhecido por sua militância em prol do meio ambiente e da sustentabilidade nos mais variados meios de comunicação ( TV, rádio, internet, mídia impressa) e no ensino universitário (é criador e professor do curso de jornalismo ambiental da PUC-Rio) - não é um livro didático, mas bem que poderia ser, já que aborda, de maneira clara e acessível, temas estudados em escolas, universidades e que são, também, de interesse geral. Os leitores que navegarem pelas quatrocentas páginas do livro de Trigueiro terão à disposição transcrições de matérias de seu programa “Cidades e Soluções”, veiculado pela Globo News, e de entrevistas e comentários do jornalista em seu programa Mundo Sustentável, no ar pela Rádio CBN, além de textos e artigos seus para sites, revistas e jornais de todo o Brasil. Outros notáveis especialistas em diferentes áreas, entre as quais a jornalista Miriam Leitão, colunista de O Globo, e Samyra Crespo, secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do ministério do Meio Ambiente, também participam da coletânea. O livro é dividido por oito eixos temáticos: “consumo consciente”, “raspas e restos me interessam”, “onde e como vivemos”, “água doce e água limpa”, “biodiverso por natureza”, “novas energias”, “questões globais” e “quando o mundo sustentável é notícia”. “Mundo Sustentável 2” é um grande almanaque, que pode ser lido de acordo com o gosto do freguês. Um almanaque repleto de curiosidades, cases e boas práticas. Entre os cases relatados, destaca-se a invenção do aposentado José Alcino Alano, de Santa Catarina, descrita no programa Mundo Sustentável. Para aquecer a água do banho de sua própria casa, em lugar do chuveiro elétrico, Alano construiu um coletor solar usando materiais reciclados. O custo do projeto? R$ 83,00. E o aposentado ainda registrou sua criação no INPI ( Instituto Nacional de Propriedade Industrial) para garantir a finalidade social de seu invento, impossibilitando a extração futura de dividendos por terceiros. Como uma das curiosidades, a bióloga Patrícia Mousinho nos conta, por exemplo, em seu artigo “E Continuamos varrendo a solução para debaixo do tapete...”, no capítulo “Raspas e restos me interessam”, que no ano de 500 d.c. foi inaugurado em Atenas o primeiro depósito municipal de lixo do Ocidente e ainda que já no século XIV, Inglaterra e França enfrentavam o descarte de resíduos como uma questão de saúde pública e de segurança. Como dado bem mais contemporâneo, André Trigueiro nos traz no livro, a partir de uma das edições de seu programa Mundo Sustentável, que apenas no Brasil são gerados 12 bilhões de sacolas plásticas por ano, o que resulta numa média de 66 embalagens por mês para cada brasileiro. Durma-se com um barulho desses. Por último, mas não menos importante, vale destacar que, por iniciativa do autor, que lançou também os livros “Meio Ambiente no Século XXI” ( Sextante), “Mundo Sustentável” ( Editora Globo) e “Espiritismo e Ecologia” ( editora FEB), a totalidade dos direitos autorais de “Mundo Sustentável 2” é destinada ao CVV ( Centro de Valorização da Vida), associação que atua voluntariamente na prevenção do suicídio. As ferramentas estão todas aí. No livro, impresso em papel reciclado, há diversas delas, prontas para serem utilizadas, compartilhadas, disseminadas. Não só no ano em que o Brasil vai sediar a Rio+20, a partir da próxima semana, mas em todos os outros também, é uma leitura indispensável para aqueles que se preocupam com o presente e com o futuro da nossa casa planetária. Vá logo à livraria e compre já o seu. Algumas curiosidades sustentáveis que estão no livro “Mundo Sustentável 2”: • No mesmo planeta em que 1 bilhão de pessoas vão dormir todas as noites com fome, um terço dos alimentos ainda é desperdiçado. • Os Estados Unidos são hoje o segundo maior emissor de gases estufa do mundo, só perdem para a China. • Estima-se que seria necessário reduzir em 60% as emissões atuais de gases de efeito estufa para conter o aquecimento global. • A Comissão Brundtland conseguiu difundir mundialmente a expressão “desenvolvimento sustentável” no relatório “Nosso futuro comum”, que serviu de base para a Rio-92. • Hoje, de todas as fontes de energia do mundo, a que mais cresce é a do vento: mais de 20% ao ano. • Coletores solares já garantem o banho quente de pelo menos 2 milhões de brasileiros. São 500 mil residências que aproveitam o sol como energia para esquentar a água. • Foi o inglês Alexander Parkes quem inventou o primeiro saco plástico, em 1882. • O Brasil é a maior potência florestal do planeta e um dos países considerados megadiversos, com alta diversidade biológica. • O CO2 produzido nas queimadas é a principal contribuição dos países em desenvolvimento para o aumento do aquecimento global. • No Brasil, o setor de transporte consome mais da metade do que o país utiliza de petróleo e o óleo diesel é o principal energético do setor. • Apenas 50,6% de esgoto doméstico urbano é coletado e somente 34,6% do volume coletado é tratado, segundo dados de 2008 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Voz e Palavra de Leny

Na plateia do show do gaitista Mauricio Einhorn, que se apresentava em comemoração por seus 80 anos no Teatro Vannucci, no Shopping da Gávea, terça-feira, a diva Leny Andrade não se fez de rogada. Da sua poltrona, a cantora gritou em direção ao palco: - Mauricio, deixa eu cantar essa. A música era "Da Cor do Pecado", de Bororó. Em seguida, fez uma declaração de amor ao violonista Chiquito Braga, convidado especial da noite, e emendou: "Eu pretendo gravar um disco com você", prometeu Leny.

Gaita em Sol Maior

A gaita é um instrumento supremo. É um instrumento pequeno. E sendo pequeno é maior do que o sol maior. A gaita é, simplesmente, o instrumento de Mauricio Einhorn.

sábado, 5 de maio de 2012

Anúncio

Abril fechou: corações a mil. Maio começa cheio de boas promessas e dias coloridos à beça. A chuva forte dispersa; que venha a chuva branda, a alma leve e o coração aquecido. Que venha o anúncio da precisa brisa. Da certeira certeza que a vida é bela, é beleza!

Zona de Conforto

Promover - Mover a favor de. Vamos todos nos pró-mover?

Nada é por acaso

No Leblon, atravesso - ou tento pelo menos atravessar - um cruzamento onde a prioridade deveria ser do pedestre. O carro avança, o motorista não dá passagem. Olho à minha frente e leio a placa do veículo: EEU 1111!

Criança não se aperta

Às vezes, o orgulho de um pai vai por água abaixo. Vejo a cena: o pai, todo bobo, mostra ao filho, que aparenta uns 3 anos - e está começando a identificar as letras - um painel na rua com letras garrafais. "Letra P de que, meu filho?" - "De papai", diz o guri. E agora, letra B de que, meu filho? - "De babai", finaliza o pequeno gênio. Pano rápido!

domingo, 29 de abril de 2012

Ofício da Arte

Era um garoto e amava os Beatles mas não os Rolling Stones. Gostava de música, vivia música. Gostava também de escrever. Vivia de escrever. Escrevia para viver, mas queria viver para escrever. Tinha um lirismo na alma, mas também muitas pedras no peito. Subiu morros, desceu aos infernos, cobriu acidentes, cometeu incidentes com a gramática, comeu grama, cobriu tiroteios, festas, favelas, a miséria humana. Escrevia releases como ninguém. Releases, veja bem! Queria ser cineasta, encontrara no ofício de repórter um atalho – talvez um caminho mais longo – para chegar à profissão objeto de seu desejo. “Se o Luiz Carlos Barreto pôde, eu também poderia”, pensou ele. Barretão fora jornalista, repórter fotográfico de O Cruzeiro. “O Cruzeiro..... que revista! Ah se eu tivesse trabalhado lá”, pensou num instante de fraqueza. Hoje, as bancas ( o mercado de trabalho) está repleto de “Tititis” e que tais. “É dura a vida de bailarina”. A vida profissional de repórter de rua o tinha envolvido numa crosta dura e hermética. Acostumara-se com a morte, sem novidades. Era o que via diariamente. Talvez este cotidiano, totalmente diferente todos os dias, mas sempre repleto de novos títulos, lides, manchetes, o tivesse deixado com uma escrita padrão. Uma fórmula pronta. Todos os acidentes na Dutra tinham a mesma estrutura. Era só mudar o número. Entre mortos e feridos salvaram-se tantos..... Ah, mais o que ele queria mesmo era trabalhar com cinema. Com a imagem. Tanto quis que, a certa altura, o destino conspirara a seu favor. Repórter de cinema do caderno de cultura, foi contratado para a função de editor do suplemento. Era a chance que tinha para se aproximar mais do universo que tanto gostava. Quem sabe, esquentaria por uns tempos o lugar, teria visibilidade e seria convidado por um grande produtor cinematográfico para exercer funções mais ligadas diretamente ao ofício da arte de escrever. Escrever pra cinema. Mal começava como editor de cinema, já estava a imaginar-se como grande roteirista, cineasta, coisa que o valha. Queria dar às palavras o significado metafórico que todas elas têm. “O verdadeiro significado”. O significado ampliado pela grande tela que contém seus sonhos. “Era o fim”, pensou. "Ou o início". Adeus à hard news, ao jornalismo de conveniência, de conivência. Aos jabás. Eram 17h. Mal acabava de fechar seu primeiro jornal, cuja capa do Caderno de Cultura trazia seu nome no expediente como editor,quando recebeu uma determinação de comparecer à sala do diretor de redação. “Precisamos de você para cobrir os novos acontecimentos do escândalo do painel eletrônico. Embarca amanhã para Brasília”. Às 21h seu corpo estava estirado no pátio interno do edifício da sogra. No dia seguinte era manchete dos jornais.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Algumas observações sobre os índios no dia deles

O índio é, antes de tudo, um forte! ( com paródia a Guimarães Rosa) A carta do Cacique Seattle, de 1855, ao presidente americano é digna de ser lida. Está na internet e ainda é atual. Uma declaração de amor ao meio ambiente! O filme "Xingu" é imperdível! O livro "Uma Jornada do Tempo", do terapeuta corporal Luiz Filipe Tsiipré, editora Nova Era, da Record, relata a convivência do autor com vários tribos indígenas no Brasil e no mundo, como os Sioux, nos Estados Unidos. Leitura deliciosa! Todo o dia é Dia de Índio!

domingo, 15 de abril de 2012

Chuvas de Abril

Vamos fazer um acordo: Se vierem, que seja com parcimônia. Pra limpar e benzer. Pra tirar o olho gordo, pra satisfazer! Não usem de violência, caiam com paciência. Pensem nos amigos que moram nas encostas. Naqueles que não têm respostas Para a ausência do emprego, do salário, do sustento, da escritura de um apartamento. Chuvas de abril, fechem o mês com a brisa. Sem vento, sem evento trágico. Com a mão de Deus, o mágico dos mágicos!

quinta-feira, 12 de abril de 2012

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Xingu: uma bela viagem cinematográfica ao centro-oeste brasileiro e ao pulmão do mundo

Aperte os cintos da poltrona, respire fundo e se prepare para uma expedição cinematográfica ao centro-oeste brasileiro e ao pulmão do Brasil ou mesmo ao pulmão do mundo. “Xingu”, o novo filme do diretor Cao Hamburguer, com produção da O2 Filmes, estreia agora nos cinemas e vai nos levar a uma viagem mágica pelo interior da Amazônia e do centro-oeste dos anos 40, 50 e 60. Com fotografia deslumbrante e atuações excelentes dos três atores que interpretam os Villas Bôas - Felipe Camargo é Orlando, João Miguel é Claudio e Caio Blat é Leonardo - a história traz um importante recorte de quase vinte anos, desde 1943, quando iniciou-se a expedição Roncador, da qual eles fizeram parte, primeiro como integrantes depois como líderes, até a criação da Parque Indígena do Xingu, em 1961, num decreto do então presidente Jânio Quadros. Longe de endeusar os irmãos Villas Bôas, correta e acertadamente, o roteiro, assinado por Cao Hamburger, Elena Soarez e Ana Muylaert, nos leva a desvendar um pouco das personalidades humanas e por vezes controversas dos três irmãos, seus medos, inseguranças, coragem e idealismo. Orlando, o mais político, que transitava entre os índios e os ministros, era o articulador, nas palavras do próprio Felipe Camargo. Claudio, vivido por João Miguel, o mais idealista. Leonardo, na pele de Caio Blat, o mais jovem do irmãos Villas Bôas, talvez tenha sido aquele que mais conflitos apresentou entre o ser urbano e o ser indigienista . Não à toa, foi desligado da expedição por ter engravidado uma índia, fato que não teria sido bem visto na época, uma vez que os irmãos Villas Bôas tinham, também, um papel de mediadores entre os homens brancos e os índios. No ano que em o Brasil vai sediar a Rio+20, o filme pode ser visto como um documento histórico e uma ode à sustentabilidade. O termo desenvolvimento sustentável foi cunhado pela primeira vez no relatório da ONU, “Nosso Futuro Comum”, de 1987, mas desde anos 40, os irmãos Villas Bôas já demonstraram ter preocupação com a sustentabilidade, pensando no homem com um todo – seja ele branco ou índio – e pensando na sua integração com a natureza, sem esquecer do progresso e do desenvolvimento. Pois foi a custa de muitas enxadadas que eles construíram, com a ajuda dos índios, campos de pouso e bases militares na Amazônia. Construções estas que serviram como moeda de troca para a criação do Parque do Xingu, que tem área equivalente ao tamanho da Bélgica, e que completou meio século de existência no ano passado. “Xingu” é tão bom que, ao acabar, os 102 minutos de filme passam a sensação de que a obra se encerra de repente, de supetão. Mas talvez tenha sido apenas uma impressão, coisa que me mereça uma segunda, terceira ou quarta ida ao cinema para desfazer o conceito. A viagem ao Xingu me fez relembrar minha visita à São Gabriel da Cachoeira, extremo do Brasil, no Amazonas, conhecido como a “Cabeça do Cachorro”, onde tive o privilégio de conhecer tribos como os Tukanos e Baniwas, entre outras, e minha incursão pelo interior da Bahia, onde, outro privilégio, conheci os Pataxós Hã Hã Hãe. Depois de ver o filme, bate a sensação de que o Brasil não conhece o Brasil. Mas precisa conhecer. Taí uma boa oportunidade. O filme é da categoria dos imperdíveis. Vá logo e garanta já o seu ingresso!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Carta-poema-crônica para um velho pai

“Estive em vários lugares e só me encontrei dentro de mim mesmo”, John Lennon. Roberto vivia sem seu pai desde seus quinze anos, quando amargurado com sua vida, o cinquentão fechou sua loja de material de construção no centro do Rio e foi tentar a vida nos Estados Unidos a fim de fazer a América como se dizia. A experiência não deu lá muito certo e o pai de Roberto ficou a ver navios. Atacado por um orgulho ferido e por qualquer eventual medo de rejeição da família que deixou pra trás ou sabe-se lá por quê - especula-se - nunca mais voltou, tendo morrido nas terras do Tio Sam, já como cidadão americano, como sonhava, ou melhor, como sonharam por ele. Poucos meses antes da morte do pai, porém, Roberto, já quarentão e com dois filhos pequenos com aquelas idades nas quais as crianças precisam de um avô, trocou a última das cartas com aquele que a certidão de nascimento dizia ser seu pai. Nela, ao invés de escolher uma narrativa em prosa, pôs-se a escrever um poema. Era a missiva de despedida, mas ambos não sabiam. “Querido pai, depois de sentir tanto a sua falta e por tantos anos, decidi transformar minha melancolia em poema. Espero que o mesmo encontre-o com saúde. Poema a um velho pai Procura-se um pai na estrada da vida: que nos leva, todos, algum dia, à morte. Um pai, procura-se: acha-se, com sorte! Pelos quatro cantos do mundo, nas telas de um impessoal computador. Com a dor imensa de um parto que partiu, que pariu novos horizontes no coração que um dia viu o amor nos tempos de cólera. Procura-se um pai entre as quatro paredes do quarto. Quando durmo, quando sonho e quando deixo meus filhos a sonhar com aquele retrato na estante. Naquele instante e só! E meu pai segue congelado, consagrado pelas bandas que o largam internet a dentro e nos “tecnologizam”. E nos acostumam a navegar, porque é preciso. Procura-se o avô do computador, que é sem nunca ter sido. Virtual, como é sabido, de contatos esporádicos e afetos imprecisos. Vida, Vida, Vida! Caminha com teus passos largos. Não deixa que o arrependimento, a dor e a saudade virem apenas vontade, virem apenas lamento! Ao acabar de dar à luz aquele pequeno poema, Roberto colocou um ponto final no texto. Foi a última carta trocada entre eles.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Fatima Guedes

Ouvir Fatima Guedes é benção pra alma. É intuição pura, no estado da arte, é calma, é melodia. Muita intensa, doce presença, toda a poesia. Noite, dia, todas as estações e fusos. O sol brilha, a lua é sua! Faz escuro, mas ela canta, sempre! Violão, voz de veludo: é tudo! E eu ali, mudo, quieto, repleto, completo por ouvi-la. Sentir Fatima Guedes no palco é um alento, um dilúvio de intensidade plena. É vento, é evento, é cantar o amor sem cantar o lamento. É brisa serena! Ouvir sua voz é transgredir o tempo!

domingo, 1 de abril de 2012

Certeza

O por do sol nos traz o anúncio do nascer de um novo dia no dia seguinte. Mas como tirar do por do sol o nascer de uma nova melodia? É o seguinte: viver dia a dia!

quarta-feira, 28 de março de 2012

Verde Verdade

Ver de verdade o meio ambiente por inteiro. Sem lupa, lente de aumento, sem miopia, sem temperos.

Por dentro, corre o sangue nas veias. Por fora, correm os carros nas vias. Nas plantas, corre a seiva que a luz do sol salva. E assim será eternamente.
Nas selvas, livremente correm os animais. Nas matas, livremente matam os animais. Animais, homens lavam as mãos. Acariciam e espetam, acariciam e espetam. Tal e qual como num balé em círculo vicioso.
A vida na mata. A mata dentro da gente. A vida dentro da gente. Quem a mata ama não mata a vida nascente das águas, dos rios, das florestas. Afinal, o meio ambiente somos nós. O ambiente inteiro somos nós. E nós, o que somos?

segunda-feira, 26 de março de 2012

Terra

Tem um monte feito de terra em cima da terra.
Embaixo da terra tem um monte de terra.
Embaixo do monte de terra embaixo da terra tem terra.
Tem terra em tudo o que quanto é lugar!

Sentença

O amor es


c
a
i
d
i
n
h
o
por você!

Sobre pedras, caminhos e passarinhos

"Tinha uma pedra no meio do caminho. No meio do caminho tinha uma pedra". Afinal de contas, "caminhante, não há caminho. Se faz o caminho ao caminhar". E por isso mesmo, "vocês que estão aí atravancando o meu caminho, vocês passarão! Eu passarinho".

Com agradecimentos aos poetas brasileiros Carlos Drummond de Andrade e Mario Quintana e ao poeta espanhol Antonio Machado.

domingo, 25 de março de 2012

quarta-feira, 21 de março de 2012

Dimensões do Amor

Conjugado num apartamento, o amor deixa de ser vento.
Passa a ser casa.
Deixa de chão.
Passa a ser asa.
Deixa de ser sonho. Vira teto.
Deixa de ser ideia. Passa a ser concreto.

terça-feira, 20 de março de 2012

Manifestação

Faça a festa e se manifeste.
Seja você mesmo!
Você é quem se veste?
Quem diz ser?

Todos os dias
olhe para o espelho quando amanhecer;
A mãe é ser?
A mãe é natureza. Então reza.

O Pai está em você? o Pai nosso?
Se o pai está você é.
Então diga: eu posso!

Roda Viva

Poesia? Pois ia, pois foi, pois é.
E sempre será!

segunda-feira, 19 de março de 2012

Oportunamente

Oportuna oportunidade. Nada a opor. Sem tirar nem por. Novidade é nova idade. Oportunamente. Ou por, ou por tudo na mente. Afortunadamente. A fortuna da mente. Tudo na mente!

Amor ao Português

"Te amo entre aspas".

Travessão.

Te amo de maneira pura e casta.

I love e louvo você.

Je t' taime.

Ich liebe dich é em alemão.

Te quiero mucho.

Debaixo do arbusto, no leito, no peito, no coração.

Voltei ao português.

Te amo sem timidez.

Destemido, dez vezes te amo.

E amo ao M de amor e quadrado.

Quatro fonemas, quatro sons.

Infinito significado.

Verão

Nunca verão o sol. Mas talvez no inverno vejam: a primavera acender. Ou tu, outono!

O Sol

O sol se estabeleceu. O sol se está belo sou. Se está belo sei. O sol se enquadrou num belo quadro amarelo e sorriu amarelo. O sol se solidarizou!