Palavras à Milanesa

Palavras à Milanesa
Não! Este blog não é de gastronomia. Mas de palavras. À Milanesa. Palavras simples como este prato de arroz com feijão, bife e batata frita.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Procura-se um pai

Um pai na estrada da vida que nos leva, todos, à morte.
Um pai de ausência vivida que não leva à nada.

Um pai, procura-se. Acha-se, com sorte!
Pelos quatro cantos do mundo, nas telas do impessoal computador.

Com a imensa dor de um parto que partiu.
O coração que um dia viu.
O amor – nos tempos de cólera –
Cantado em boleros mil.

Procura-se um pai.
Entre as quatro paredes do meu quarto.
Quando durmo, quando sonho.

Com aquele retrato na estante.
Naquele instante, é só.
É o pai congelado, consagrado pelas bandas que o largam internet a dentro.

E nos tecnologizam.
E nos acostumam a navegar, por que é preciso.

Procura-se o avô do computador.
Que é sem nunca ter sido.
Virtual, como é sabido.
De contatos esporádicos e afetos imprecisos.

Vida, Vida, Vida!
Caminha com teus passos largos.
Não deixa que arrependimento, dor e saudade virem apenas vontade, virem apenas lamento!

domingo, 10 de julho de 2011

Ficção

O que seria de nós que escrevemos, não fossem nossas referências, dependências - mesmo químicas - nossos pesadelos - mesmo cínicos, nossas mazelas, amizades, nossas novelas, assembleias, igrejas e nossas falências.
O que seria dos seres que servem ao mundo com sua caneta não fosse o fosso que às vezes se metem, os enrolos, os sufocos, as situações que se repetem. Amores dissolvidos, amores descobertos.
O que seria do leitor não houvesse um suposto ser supostamente mais sofrido capaz de resgatar-lhes a dor e trazê-la para o livro. Levá-lo, então, da Terra ao infinito e ser capaz de traduzir-lhe seus idílios, seus exílios e martírios. Pobre ser este escritor.
O que será de nós, que imprimimos em brancas páginas, ágeis passagens, dores, enroscos, amores, temores e terrores que dão sentido e rimas às histórias meninas das vidas pequenas que nos valem à pena?
Quantas passagens, quantas viagens, quantos livros lidos, publicados, rasgados, quanto passado, quanto presente, quanto tempo, quanto tempo tendo a esperar o futuro, que juro desconhecer?
O que foi o passado, hoje um presente resgatado, impresso, publicado. Nova fronteira, nova coleção na estante.
Por instantes, me confundo. Afundo no prazer do ler, me perco, fujo. O livro é meu refúgio e nele mergulho juntando letras, às vezes modernas, às vezes obsoletas.
Logo volto, respiro. Realidade ao redor, mais material, enxergo tudo melhor, mais mecanismos, contatos humanos, cinismos, egoísmos, racismos, conceitos, preceitos. Tudo junto me alimenta, reuno casos, causas, coisas, canções, nações, nascimentos, placentas, tudo isso mais um liquidificador, cabeça aberta, daqui a pouco um novo escrito, amanhã quem sabe um novo livro que desperta.

Muita Luz, Pouca Luz

A primeira sensação que se tem ao entrar no estúdio da fotógrafa Teresa Bastos é a de aconchego. Fora os detalhes técnicos, é claro, que causam ótima impressão:

Luz,
Câmera,
Ação.


Pequeno mas eficiente, seu estúdio se transforma a cada mudança de fundo e a cada nova ambientação do cenário. Ganha proporções e dimensões imensas. Flores, por exemplo, que ajudam a embelezar e a “naturalizar” a atmosfera, adquirem, assim, múltiplas funções e ângulos desconhecidos.
Na hora do click todos os gestos são naturais. É assim que Teresa faz questão de deixar aqueles que estão do outro lado de sua lente. Com docilidade, impunha a câmera, dirige o espetáculo e colhe, sempre, a melhor expressão.
Para acompanhar a sessão de fotos há, conforme o perfil do fotografado, uma trilha sonora para lá de especial, que varia de Gilson Peranzetta ao cd do filme Betty Blue, passando por bossa nova e jazz.
Teresa parece buscar um registro fotográfico íntimo. Talvez uma beleza sutil presente em todos nós. Sua arte, quase artesanal, é milimetricamente dosada. Para fluir é preciso que haja uma simpatia mútua, uma comunhão de auras. E sempre há.
É assim, nesse jogo de expressões e impressões, de luzes e cores, que surge o trabalho de Teresa Bastos. No maior equilíbrio e no melhor contraste: muita luz, pouca luz, muita luz, pouca luz...

Sob Nova Direção

Sopram os ventos da modernidade, a chegada de um novo ser.
Assim caminha a humanidade, hoje, amanhã, sempre, em cada amanhecer!

É preciso andar com fé, sempre em frente e adiante.
Olhar reto pro futuro, deixar tudo claro, nada escuro!

Iluminar a alma, pavimentar o caminho, estar com Deus, nunca sozinho!
Amar ao próximo em cada instante, ter coragem e ser confiante!

Saber que estamos de passagem, que tudo é ilusão e ao mesmo tempo miragem!
Plantar sempre boas sementes, pensar com carinho em nossos descendentes!

Dizer um basta à guerra! Homem matando homem por nada mais que um risco no chão.
Ter orgulho do Planeta Terra, edificar o futuro numa canção, num acorde, irmão!

Exercícios de Memória

Quando todas as luzes se apagam, tudo vira filme. Os personagens tomam seus lugares e seus enredos se desenrolam. Ao final, descem os créditos, de carbono. Nenhum homem é uma ilha. Nem mesmo eu, que me abono e me chamo Caio. E com leveza caio em minhas lembranças. Volto pra outras esquinas. Me resgato de situações que vivi. Sou o único autor do livro da minha própria vida e da minha existência, que precisa ser plena, revisitada. Revisitar está na moda. Meu primeiro livro, que tento escrever agora, me leva novamente a lugares em que já estive. Sou ave em busca de seu próprio voo. A libertar-se das correntes que amarram a iniciação. Não quero repouso. Quero pousar e voar, pousar e voar e voar.
O relógio está atrasado. Por ele, 7h. Minha certeza interna diz que são 7h30min. Hora de ir embora. Hora de falar a verdade. De ouvir a verdade interna que carrego dentro do peito. Tudo com muito respeito. Acordo cedo, antes dos galos e das galinhas. Do sono parto para a vida, da vida para o cotidiano, do cotidiano para o plano, do plano para as diversas dimensões. Me arrumo e sigo para o colégio no ônibus lotado que passa carregando aquelas pequenas realidades em forma de crianças. As notícias chegam cedo, com o raiar do dia. Já nesta época corria atrás delas por debaixo da porta.
E no pátio interno do colégio o hino nacional é a canção que une todos num só ideal. Pra frente Brasil. Este é o sentimento que desde criança nos é imposto. Imposto pra tudo. Pra morar, pra namorar, pra estudar, pra comer. Quando vão nos cobrar o ar? Quando acabar a energia, eu diria. O Brasil é o país do futuro, mesmo no escuro. E como todos os gatos são pardos, faz escuro, mas eu canto em homenagem ao Thiago de Mello.
Pra tudo tem medida provisória a fim de eternizar o definitivo. De crise em crise o governo enche o papo. Papa o povo. A gente, bobo, cai de novo. Pronto, é botar um curativo. Passar o dedo na ferida e lamber a cria. Xó apagão.
Nos anos 80 eu fui criança e adolescente. Doce era como democracia. Em cada esquina uma eleição e todos com direito a voto. Deixa o paletó na cadeira que eu já volto. Eu sou minerva, café com leite. Que nada, sou mais um plano verão, Flamengo de coração. Pelo menos era esse meu time nas tardes de domingo no Maraca. Meu avó era meu aval para o mundo. Meu passaporte. Aposentado, era ele quem me levava para o divertimento diário, para esquecer das tristezas da casa em família.
A própria já era destroçada. Bem cedo ficamos órfãos. Meu pai foi-se, mas não morreu. Pior talvez. Estava perto mas longe, num apartamento na Urca, um pequeno apertamento. E meu coração apertado.
Família era coisa boa que nunca tive bem. Era bem que me foi tomado. Festa de aniversário, parentes presentes, muito presentes, coca na geladeira, onde estavam meus sentimentos. Frios como a parte sul da Argentina.
Mas o tempo passa para todos. E para mim também. Hoje sou reflexo no espelho que espalhou minhas diversas imagens pelos cantos da casa antiga da infância vivida com ardor. Agora, metido o peito em lembranças, ânsias e angústias, estou aqui tentando reescrever a minha história. São 20h de um feriado, estou sozinho em casa.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

TWITTES DE FERIADO

O tempo tempera a relação e a relação tempera o tempo. Com sal a gosto. O tempo não para. Agosto está pra chegar. A gosto de Deus, o maior dos cozinheiros!


A melhor hora do dia é a hora da poesia, da rima fácil, da rima rica! Da rima que rema remador. Da rima que fica, que não se explica! A rima do meu amor!


Vale a pena viver de novo, reviver, rever, ver. Esperar a esperança que se alcança com o futuro que chega de presente, passado a limpo!

terça-feira, 21 de junho de 2011

O INFERNO E O MENINO DO PIJAMA LISTRADO

No filme “O menino do pijama listrado”, que deriva do livro “O menino do pijama listrado”, que deriva da mente de John Boyne, o autor, que deriva da criação de Deus, Bruno é um garoto de 9 anos que se muda com a família de Berlim, na Alemanha, por conta do emprego do pai. A marca de Bruno é a ingenuidade de seus nove anos. Explorando os limites da sua vizinhança, ele descobre o Inferno bem ao lado de sua casa. É a visão do Holocausto pelos olhos gentis e meigos de uma criança, uma criança de 9 anos. A casa da família de Bruno, uma criança de 9 anos, era literalmente o quintal do Inferno; o quintal de um campo de concentração da Segunda Guerra Mundial. Seu pai era um oficial do exército alemão que respondia diretamente à Hitler. A mais pura materialização do Inferno na Terra, meus amigos.
Pois para Bruno, uma criança de 9 anos, era um refugio, um paraíso. Era no Inferno que ele ia passear e ali encontrava, do outro lado da cerca, o garoto Shmuel, um pequeno prisioneiro de guerra que estava sempre com seu pijama listrado. Na pureza peculiar de uma criança, que não enxerga lados diferentes como num confronto do tamanho de uma guerra, os dois meninos fizeram amizade, selaram seus destinos, suas vidas e suas mortes. O pai de Bruno, que era uma criança de 9 anos, o tal oficial do exército, este sim vivia no Inferno. Um Inferno particular criado por ele o no qual acabou se enredando. Mas se você não leu o livro ou viu o filme, parodiando Silvio Santos ao contrário, eu li o livro e vi o filme e afirmo. É bom! E pode deixar que não vou mais divagar nem detalhar outras passagens da história. Vale a pena ler e ver. Apesar de triste, a história é também muito bonita.
E como diria o Rudá, do Clube da Leitura, no seu conto “Lições de Arquitetura”, que foi o vencedor da última rodada, “o Inferno é uma grande mansão, repleta de quartos. Cada um deles tão pequeno quanto o Inferno é infinitamente vasto. E o tamanho do Inferno particular de cada um de nós é ditado pelos limites de nossa própria miséria”. Eu acho que o oficial nazista e pai do Bruno, uma criança de 9 anos, tinha certeza disso!