Palavras à Milanesa

Palavras à Milanesa
Não! Este blog não é de gastronomia. Mas de palavras. À Milanesa. Palavras simples como este prato de arroz com feijão, bife e batata frita.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Jeremias e o Porquinho




Desceu pelo elevador do fórum da comarca já algemado. Na carceragem que fica embaixo das salas onde acontecem as audiências foi bem recebido por um policial militar. Os pertences pessoais ficaram numa bolsa. Dentro da cela, a primeira cena foi surreal. Outro policial militar, evangélico, fazia uma oração. Perguntou a ele se naquela noite ele aceitaria Jesus. Jeremias, meio confuso, disse que sim. A primeira pessoa que viu preso na cela foi familiar. O sobrinho de um amigo. Falante, o outro rapaz da cela, de 22 anos, estudante de publicidade, contava a razão pela qual estava ali. 
- Dei uma festa com drogas em casa. A polícia invadiu. Fui preso em flagrante. Artigo 33 do Código Penal. Sou usuário, mas fui enquadrado como traficante. Estou na cadeia há três meses e meio. Quando sair daqui, vou escrever um livro e te procurar pra me ajudar na tarefa.
Jeremias fez que sim com a cabeça. Nos olhos daquele rapaz havia certeza e esperança. 
Às 18h saiu da prisão do fórum para a prisão da delegacia. Tudo seria prisão dali em diante. O soldado que o escoltava na patrulhinha era simpático.  Chamava-se Arcanjo.  – Mesmo nome do Tim Lopes – comentou Jeremias. O policial ficou surpreso por ter um xará famoso: o jornalista que fora brutalmente assassinado em 2002 durante uma reportagem.
Na delegacia, talvez pelo curso superior, o inspetor do plantão garantiu-lhe uma cela exclusiva e ainda “direito” a levar um livro para seu “porquinho”. É assim que o pessoal do “metier” chama as celas de uma delegacia. Suspeitava a razão do apelido: ao entrar, confirmou. Para garantir-lhe a leitura noturna, o inspetor fez a gentileza de deixar a luz do corredor acessa. O livro foi companhia, foi travesseiro, foi cobertor. 
Passou a noite contando baratas e carneirinhos. Passou a noite ouvindo as “ocorrências” que chegavam a todo o instante. Uma dupla chegou detida por portar um facão. Um facão com nota fiscal, mas um facão, dizia o "meliante" no corredor. O policial fez troça diante da incredulidade do garoto. E este, ao prestar esclarecimentos ao “polícia”, interrogava-lhe o motivo pelo qual havia sido detido.
- Vocês são do Comando Vermelho. Já estão até identificados. São pegos como facão e explosivo na mochila e não sabem por que estão aqui? Santa burrice!
Na manhã do dia seguinte chegou a primeira mulher, acusada de furtar dinheiro do trocador de um ônibus. Eugenia Arribada da Silva. – Arribada da onde, dona? Perguntou o inspetor. Chegou a arribada, Jeremias dançou. 
- Quantos têm aí dentro? Bradou o policial. Um - respondeu o próprioJeremias.
 – Sai daí.
Foi naquele instante que Jeremias realmente ingressou no submundo carcerário. O “porquinho” para o qual foi transferido tinha 1,5m por 1,5m e quatro "gentis" companheiros. Havia um acusado de homicídio, outro pela Lei Maria da Penha, um outro que estava em “triagem” e um último que parecia um preso profissional, o chamado come e dorme. - Aqui nois engorda. Não tem outra coisa pra nois fazer si  não “cumê” e “durmí”.  
- Seu “puliça” num vai “trazê” o rango pra nois?”
Após o almoço, gentilmente declinado por Jeremias, repassado aos colegas, e diante dos comentários anteriores de que não havia o que fazer, Jeremias propôs aos “colegas” fazerem “adedanha”. A proposta não teve aderência. Os quatro companheiros de cela dormiram profundamente após a refeição regada a guaravita, não sem antes fazerem o rodízio dos lugares. - Já rodei por todos os cantos desse “porquinho’”, disse um. Jeremias ficou de pé. Ficou de pé durante o dia inteiro. Ficou de pé até o final de tudo.
Era cerca de 13h30min, denunciava o telejornal da TV que se ouvia da sala do inspetor, que, impune, fumava um cigarro num ambiente fechado. 
– Que ironia. A lei deveria ser pra todos - pensou Jeremias. 
Neste instante da cela ouviu o grito:
- Pode soltar o PA( pensão alimentícia). Já está tudo ok. Gritou um policial do corredor. O alvará de soltura já está chegando. E o alvará foi chegando, foi chegando, foi chegando. Eram 18h30min e Jeremias estava livre. Durante todo aquele dia, Jeremias pensou na vida. Jeremias estava livre. Jeremias era outro homem.





sábado, 15 de abril de 2017

Des co(m) nexos




Comprei um caqui na feira. Gosto de mulheres com cabelos compridos.
Se eu namorasse uma cineasta seria ótimo.
Comprei bananas. Na feira. Tropecei nas cascas.
Se eu namorasse uma poeta seria ótimo.
Comprei um pouco de paciência com dinheiro trocado.
Gosto de mulheres altas.
Um amigo de juventude está cheio de processos na Justiça.
A vida é justa.
Uma amiga segue seu tratamento contra uma doença que molesta o corpo.
Mas sua mente está ótima.
Gosto de mulheres determinadas. Minha filha não fala comigo há três anos.
Estou procurando uma sócia para morar numa casa de vila.
Estou em busca de uma vitrola pra tocar os LPs que herdei de meu pai e de minha mãe.
Devolva o Neruda que você me tomou.
Estou em busca.
O amor é químico.
A bomba atômica é química.
E o senhor da guerra não gosta de crianças.
O amor é troca de energia.
O amor é entrega.
Steve Wonder é cego.
Baudelaire gostava de animais.
Minha avó não gostava de animais. Não torcia pela seleção brasileira.
Amanhã estou indo pra Síria. I left my heart in San Francisco.
Last but not least the lady is a Trump.

Lamento do Amor Ligeiro




É fácil esquecer de um amor que daria certo:
Basta não ouvir a voz do coração.
Assinar um veto.
Estar longe querendo estar perto.
Tratar diferente, ser formal.
Encerrar um amor que daria certo é ir contra a corrente
Não ser coerente,
É mergulhar fundo no não.
Ir contra o fato e o ato.
Ter como resposta a solidão.
É errar a mão no verso.
Na melodia, no acorde.
Usar de outro tom.
Acorde, Acorde! Ainda há tempo!
Encerrar um amor que daria certo é quase sem perceber.
Quase sem querer, mas querendo.
É caminhar contra o evento.
E sentir que menos é menos.
E já não dá mais pra estar junto.
Mesmo com todo o tempo do mundo.
É sem explicação.
Encerrar um amor que daria certo é abreviar.
É encerrar o assunto

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Cláudia Raia comemora 30 anos de carreira com espetáculo autobiográfico entusiasmante no Teatro Oi Casa Grande





Pode uma artista ainda jovem para padrões artísticos aos 48 anos, recém completando 30 de carreira, fazer um espetáculo autobiográfico, contato sua história? Ou musicais que repassam carreiras são para os artistas já com idade avançada, ou mesmo falecidos? No caso da atriz e dançarina Cláudia Raia pode sim. Pois, para ela, o céu é o limite e o corpo é seu templo. Cláudia, como dito, está comemorando seus 30 anos de carreira, oficialmente iniciada na primeira metade dos anos 80, no programa Viva o Gordo, de Jô Soares, na TV Globo.
Para marcar a data redonda, Cláudia estreou em outubro, no Teatro Oi Casa Grande, no Leblon, o espetáculo “Raia 30”, com texto ganho de presente de Miguel Falabella, onde ela passa em revista sua vida. Desde o iniciozinho de suas ambições artísticas, aos 7 anos, quando se apresentou ao coreógrafo americano Lennie Dale ( “Eu sou Maria Cláudia Motta Raia!”) e disse que dançava igual a ele, passando por sua ida, sozinha, a Nova Iorque para estudar dança, aos treze anos, por sua atuação em novelas como Sassaricando e Rainha da Sucata, até os dias de hoje.
Como ela disse na coletiva de imprensa em que apresentou o espetáculo, entusiasmo é a palavra a define. E, como consequência, seu espetáculo, que conta com a participação de outros 14 excelentes atores-dançarinos, é entusiasmante do início ao fim. A montagem, extremamente caprichada no que se refere a cenários, figurinos e coreografia, é uma injeção de ânimo, com boas doses de humor e letras “entusiasmantes” para usar a palavra-Cláudia.
A trajetória da atriz representada no texto é uma aula de garra e determinação. No espetáculo, Cláudia contracena em flashback em alguns momentos com figuras como sua mãe que, cedendo à insistência da atriz em busca da carreira artística, acaba aceitando e incentivando seus passos. Em uma das passagens, sua mãe pondera: “Sempre se pode melhorar, minha filha”. E ela parece ter seguido à risca o conselho de sua mãe. Vendo Cláudia no palco esbanjando vigor e talento é impossível não se fazer a comparação com a atriz Marilia Pêra, falecida há poucos dias, que também pautou sua carreira pelo amor ao teatro e aos musicais.
Pelo que demonstra ao público,
Cláudia orgulha-se de nunca ter fugido da raia e parece estar no rumo certo. “Caminhante, não existe caminho. O caminho se faz ao caminhar”, como ela mesma diz no espetáculo, citando o verso do poeta espanhol António Machado. E até mesmo este simples resenhista acabou, pela sorte de estar na terceira fileira do Oi Casa Grande, cruzando o iluminado caminho da atriz. Ganhar um beijo seu foi um grande prazer, Cláudia. E não foi apenas imaginação!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

NOVE







“Marca a hora o relógio, mas o que é que marca a eternidade”? Walt Whitman


É mais uma tarde carnavalesca de verão em que o sol arde no bairro das Laranjeiras, dia 17 de fevereiro. E ele também é um sol. Foi pontual e preciso ao se desprender da barriga da mãe exatamente às 16h09min numa cesárea hercúlea. Num parto-chegada! Vamos combinar, queridos astros, que pelas combinações numéricas de dia e hora de nascimento ele é ímpar. E sendo ímpar, é também meu par, meu princípio, meu príncipe, meu retorno. Volver a los diecisiete. E agora me vejo voltando nove anos atrás àquele 17, e a sentir profundo como uma criança frente a Deus, como cantou Mercedes, a negra Sosa. Nove verões, nove carnavais, nove campeonatos cariocas depois. E aqui estamos. Como se não bastasse, é apaixonadamente Flamenguista, Fiel e Fanático, Francisco ao cubo, e com a bola nos pés. Sempre ela. Bola e Francisco, Francisco e bola. Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol? Além de dar tratos à bola, tem pinta de galã e artista, mas sou suspeito pelo fato de, com a ajuda da mãe, tê-lo feito. Estamos todos em festa na cidade do carná for all, neste país tropical de Dilmas e Rousseffs. É fevereiro, sou Flamengo, ele já tem um violão, não tenho um fusca, mas tenho um nego chamado Francisco, abençoado por Deus!

domingo, 29 de setembro de 2013

Via Dutra





Era um garoto que amava os Beatles, mas não os Rolling Stones. Também adorava Hilda Hilst. Ou HH, como a escritora era também conhecida. Tal como meu pai, eu gostava de música. Vivia música. Gostava também de escrever. Ao contrário de meu pai. Vivia de escrever. Escrevia para viver mas queria viver para escrever. Tinha eu um certo lirismo na alma, mas também algumas pedras no coração. Quando criança, pensava apenas em seguir alguma profissão que me possibilitasse escrever. Escrever, escrever, escrever. Não imaginava que anos mais tarde estaria em cima de morros, fazendo coberturas jornalísticas de acidentes, engarrafamentos, assaltos, sequestros, tudo de mais cruel da miséria humana. É.... Me tornaria um repórter.

Os anos compartilhando os sofrimentos alheios deram-me, no entanto, uma vontade louca de viver apenas meu próprio sofrimento. Meu próprio sofrimento. E eu queria me libertar dele. Talvez vivendo-o, eu me libertaria. Talvez – eu pensava - descobrisse como fazer isso por meio da magia do cinema. Do mundo no qual mergulhamos quando nos encontramos sentados naquelas cadeiras pretas acolchoadas, tendo os olhos fixos na grande tela.

É. Eu queria ser cineasta. Descobri isso quando me tornei jornalista. Havia encontrado na profissão de repórter apenas um atalho para chegar a trabalhar com a sétima arte. Eu me convencera disto. A vida profissional de repórter de rua realmente me havia envolvido numa crosta dura e hermética. Havia me acostumado com a morte sem novidades e de uma tal maneira que já não reservava choro sequer para os três ou quatro parentes próximos que vi desfalecerem nos anos que atuava como cronista da vida urbana, nome mais romântico, creio, para designar o trabalho de um repórter. Talvez este cotidiano, totalmente diferente todos os dias, mas sempre repleto de novas manchetes, me tenha deixado com uma escrita padrão. Uma fórmula pronta. Receita de bolo mesmo. No final das contas, todos os acidentes na Dutra tinham a mesma estrutura, tivessem acontecido em qualquer quilômetro que fosse. Era só alterar o número. - Entre mortos e feridos nem todos se salvaram.

Queria trabalhar com a imagem de uma maneira mais romântica, onde se pudesse, talvez, extrair de uma linda cena de amor um lindo diálogo entre dois personagens, um ensinamento para a vida. ‘Acho que ficou piegas este exemplo. Mas acredito que no fundo, você, leitor, entendeu o que eu quis dizer. Tá bom sem exemplos”.

Algumas coisas em minha vida foram sempre acontecendo, penso eu, com o intuito de me levar para onde eu realmente queria ir. Foi assim quando sai da cobertura de assuntos de Cidade para o Segundo Caderno. Pensei: “Estou mais próximo do cinema agora. Só falta comprar o ingresso”. E o filme reúne John Lennon e Hilda Hilst, com roteiro de Alcir Pécora. Na trilha sonora, a música "De frente pro crime": “Tá lá um corpo estendido no chão”.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Cantos da Cidade




São demais os cantos desta cidade. São demais! Muitos cantos desconhecidos até mesmo dos cariocas. O Monumento Estácio de Sá, no Aterro do Flamengo, parece ser um destes. Projetado em 1973 pelo arquiteto Lucio Costa, restaurado pela prefeitura do Rio em 2010 e adotado pela universidade que leva seu nome, o belo obelisco em formato piramidal, de onde se tem uma vista privilegiada da enseada de Botafogo e da baia de Guanabara, é a atual residência de um coletivo de artistas visuais e escritores, o “Caneta Lente e Pincel”, criado, há quatro anos, pelo escritor Renato Amado e pelo fotógrafo Guilherme Quaresma.
Deste modo, desde o sábado, dia 6 de abril, e até o dia 24 de maio, o carioca, o turista, os apreciadores das artes e amantes da Cidade Maravilhosa têm um motivo a mais para conhecer o Monumento Estácio de Sá: a exposição “Passeio”, assinada pelo coletivo, em cartaz no Centro de Visitantes do Monumento Estácio de Sá, no subsolo do lugar.
No total, são 33 obras criadas em duplas que reúnem sempre um escritor e um artista visual. O número de colaboradores é de 32, sendo 17 escritores, 14 artistas visuais e um músico. O resultado final de cada uma das duplas de criação é surpreendente. A exposição divide-se em duas partes: “Retrospectiva” e “Passeio”. A parte “Retrospectiva” traz obras de exposições passadas e, em suporte físico, obras do site do projeto. O processo criativo das obras originariamente postadas na internet funciona da seguinte maneira: uma vez o desenho é enviado ao escritor que se inspira e escreve seu texto; no turno seguinte é feito o contrário. Assim, é o escritor quem envia seu texto e o artista visual se inspira. Já nas obras “Passeio”, escritores e artistas, juntos, formularam uma obra única, em que a literatura e outra arte se fundem.
A exposição que está em cartaz no Monumento Estácio de Sá é uma experiência sensorial, da qual fazem parte palavras, cores, traços, pequenas instalações, além de imagens em vídeo. Elas estão justapostas em suportes e materiais, em harmonia, que oferecem uma amostra significativa do que de melhor se produziu nos últimos tempos pelo “Caneta, Lente e Pincel” nas diversificadas linguagens adotadas. Um trabalho digno de ser visto e acompanhado. A curadoria da exposição é assinada por Vivian Faingold, com produção executiva de Renato Amado e Danielle Schlossarek. Corra até o Aterro e vá conhecer dois belos cantos da cidade: O Monumento Estácio de Sá e o “Caneta, Lente e Pincel”. Este, de diversas e múltiplas vozes. A entrada é franca.


Artigo publicado na editoria de Opinião do Jornal O Dia em 11 de abril de 2013.


http://odia.ig.com.br/portal/opiniao/george-pati%C3%B1o-cantos-da-cidade-1.570751

domingo, 7 de abril de 2013

Filhos




Filhos



Os filhos irão crescer. A missão será cumprida. Ou mesmo comprida. Mas nada disso cansa. Canção. Uma canção simboliza a beleza, que se põe na mesa, nos quatro cantos do mundo. O ar condicionado condiciona um amor verdadeiro. Debaixo do chuveiro, eu viro marinheiro e canto. Canto em louvor aos rebentos que nasceram do ventre da mãe que é minha mulher. Me dá uma colher? Você, com a faca e o queijo na mão.

Os filhos irão crescer. Isso é fato. Não serão apenas um retrato, um arquivo, um vídeo estático. Na estante. Instantaneamente, invariavelmente, rapidamente, advérbio de modo, em movimento vão correr, a seu modo, moto contínuo, ato falho, raiz forte, quebrando o galho.

Os filhos irão crescer. E haverá um dia, apenas um, em que eles já terão crescido. E não será mais preciso dar a mão pra atravessar a rua. A travessia será outra. Intra-oceanos. E eles se despedirão com acenos, afagos, calores e afetos. Os filhos, só eles, sabem o quanto são queridos. Neste lado e no outro lado do mundo, ainda que mares e marés separem.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Na Praia de Falun




Este conto é livremente inspirado no texto “Reencontro Inesperado”, do poeta alemão Johann Peter Hebel, que viveu entre os anos de 1760 e 1826. É o recorte da história de um casal que vai passar o ano novo junto entre amigos e acaba se casando. Era pra ser apenas mais um show ao ar livre, na paradisíaca praia de Falun, uma comuna sueca localizada no condado de Dalama. A turma combinou um ponto de encontro e foi chegando aos poucos. Reuniram-se na casa de Gretha, que já esperava a todos ao lado de sua gatinha Alice Garbo. Gretha trabalhava no Ministério Público Sueco e morava no bairro de Gamla Stan, também conhecido como Cidade Velha. Após algumas vodcas absoluts, o grupo reunido partiu rumo àPraia de Falun para dar início às celebrações pelo ano novo.

No palco montado sobre as areias gélidas da Praia de Falun já se apresentava o grande cantor sueco Bjorn Borg. Dali a instantes chegaria a vez do grande cantor americano Steve Wonder se apresentar. Mais tarde um pouco cantariam juntos. Ambos são cantores negros, sendo Borg um pouco mais negro. Mas o que de fato importa nisso tudo é que o show foi o motivo pelo qual. Motivo pelo qual o casal ficou ali debaixo da árvore em frente a um famoso hotel de Falun. E motivo pelo qual andaram juntos, ao final do show dos cantores negros, pelas calçadas da comuna, ele a guiando carinhosamente.

No meio do caminho da larga via havia pedras. E havia muitas pessoas. Cerca de 400 mil segundo estimativas do batalhão local da Polícia Militar deFalun, além de muitos carros e muitos ônibus. E mesmo com todo aquele mar de gente na grande avenida daquela comuna nada ao redor era importante. Era como se o mundo tivesse parado. Só havia ela. Só havia ele. E quase sem querer foram deixando pra trás os amigos que os acompanhavam.

Quarteirão a quarteirão, a conversa seguia fluindo. Os temas eram dos mais variados, como a narrativa do prazer, da parte dela, de morar naCidade Nova e trabalhar na Cidade Velha deFalun. A certa altura, precisamente na esquina da avenida Hans Staden com a Rua Ingmar Bergman, às 23h33min de uma noite bastante fria do hemisfério norte, defronte do salão de cabeleireiro Petra Hultgren, motivado pelo sentimento do mundo que exalava naquele momento, ele virou-se pra ela e disparou:

- Quer se casar comigo?
- Sim!!!!!!! Disse ela, convicta.
- Aceita trocar o casamento por uma bicicleta Caloitesen? Testou ele a la Silvio Santos, famoso apresentador da TV Sueca.
- Não!!!!!!!, ela rebateu.

Era a senha. Ele teve a certeza da certeza dela e tirou as alianças do bolso. Os dois então correramna direção da paróquia da “Praça da Nossa Senhora dos Aflitos dos Países Nórdicos”, acordaram o padre e rezaram para que ele os casasse. A lua de mel, na sequência, foi passada em Folégandros, uma certa ilha grega paradisíaca, que ambos conheciam apenas de ouvir falar a partir de um conto apresentado por amigo comum. Antes da Grécia, porém, fizeram uma escala em Goiania, no Brasil, terra da prima da noiva, a famosa “DJ” Morgana, que recentemente conquistara o prêmio de “Melhor DJ do Ano Vip” em votação nas redes sociais.

Tempos depois, já de volta à Falun, nasciam os dois filhos do casal formado no show dos dois grandes cantores negros. O padrinho, Stevie Maravilha, muito famoso nos Estados Unidos, sequer os viu quando nasceram. Estava em seu país tocando em turnê. Mas muito satisfeito, enviou uma canção de presente às crianças: “You are the sunshine of my life”. No final das contas era pra ser apenas mais um show ao ar livre numa noite bastante fria de inverno no hemisfério norte. E foi.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Nova Mente






2013 ou 0123? Não importa. A ordem dos fatores não altera o produto. Reinício de caminhada. Nova mente, novamente!

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Réveillon







Sob nova direção, leme na mão, o mar agora está pra peixe.
Não se queixe: 2013 está aí, aproveite!
Somos todos juntos no mesmo barco,
Remando a favor do vento que inventamos.

Todos no mesmo tom, na expectativa.
Os convites já chegaram.
A melhor roupa vamos tirar do armário.
E vamos tirar do armário também os excessos, os medos.
A falta de coragem.

Seguir viagem!
A noite que chega do 31 é derradeira.
Disto ninguém se livra! O ano vira para todos e para todos é recomeço.
Não tem parada. Tudo está em pé!
Feliz 2013! O ano novo é o que é!

Encontro das Artes




Procuro a verdade
Que seja dito
popular.
A música que seja pra pular.
O verso que seja livre,
O livre arbítrio.
O leve delito.
A flambada cereja.
O bolo de chocolate.

Procuro a melhor parte
Do ser que seja:
Eu = Você.
O beijo teu que me esqueceu.
Procuro o cinema que seja
conceitual.
O teatro reflexivo.
O Amor explosivo.
O amor calmo.
Sem tudo isso eu não vivo.
Onde está a flecha, cadê o alvo?

Onde está minha canoa?
Com quantos paus se faz uma?
Vou pra Araruama, vou pra Araruama.
Ver se lá eu me arrumo.
Vou de canoa, vou sem rumo.

Procuro a pintura expressionista.
O melhor quadro.
A minha artista, a mulher que eu enquadro.
É você que trago, que respiro.
Você é meu encontro das artes.
Encontro comigo mesmo.
Consigo mesmo. Você eu consigo mesmo.

domingo, 30 de dezembro de 2012

A mulher amada





A mulher amada precisa gostar de vinho tinto seco e da pizza “paulistana” do Bráz. Precisa ter dentes brancos, lábios macios e a alma leve. Deve ficar à vontade ao falar de si mesma. E ter a certeza de que morar no Grajaú é a melhor coisa do mundo. Precisa gostar de Quintana, de quintal e de fruta no pé. Torcer pelo Fluminense e o ter paladar infantil é fundamental. Uma pequena dose de timidez a faz ficar extremamente charmosa.

A mulher amada é simples. E é sofisticada. Tem o sorriso mais lindo e a pele branquinha, suavemente avermelhada, queimada pelos cinquenta tons de cinza do sol da praia de Ipanema. Ela precisa saber que tem pressão alta. Mas que pretende que fique normal. Que quer voltar a fazer exercício e que seu joelho não vai lhe atrapalhar. Ah, precisa aprender a usar o telefone celular. Para emergências. Também precisa gostar de nadar em mar aberto e, de vez em quando, fazer alguma travessia. Com regularidade, muitas travessuras. Estar atenta às fases da lua e ao movimento das marés é de bom tom.

A mulher amada pode até ser uma melancólica otimista, mas nunca o contrário. Por que a melancólica otimista sempre tem uma ponta de esperança. Ela precisa não querer ser beijada na primeira noite, mas ter uma vontade grande de que isso aconteça nos encontros seguintes. Ah, a mulher amada! Dada a receita fica fácil. Ela é tão amada e tão doce que não precisa de nada. Só de ser amada. A mulher amada precisa ser ela, a guiar, como anjo, o coração daquele que ama. Ela é simplesmente adorável. Ou não?





terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Táxi para Folégandros




Era madrugada. O casal caminhava pela rua da Carioca, no centro do Rio. A via estava deserta. No meio do caminho havia pedras. E lixo, muito lixo. E ratos. Eram muitos e se aproveitavam da sujeira humana, de raspas e restos, armando ali mesmo seu banquete. Ao ver os ratos, a moça de vestido branco - branco como a pureza de sua alma - sentiu medo. Pelos ratos e por ela.
O que seria de sua vida num futuro próximo? Agarrou-se, então, ao braço de seu companheiro e ali encontrou conforto. Ficaram em silêncio por instantes e depois riram. Àquela altura da rua da Carioca, aquela hora da madrugada, naquele exato instante, não havia palavras para se descrever o sentimento do mundo. Foi então que ele fez uma pergunta a ela:
- O que você quer da vida?
- Perguntinha difícil - disse ela, respondendo sem responder.
E voltaram novamente para seus pensamentos e reflexões.

Em seguida, a moça de vestido branco, como que rompendo novamente o silêncio, conta então uma curiosidade:
- Sabe que existem pessoas na Terra que são anjos? Todos têm seus anjos da guarda, mas algumas pessoas nascidas em determinadas datas não os têm por que são elas os próprios anjos. Têm o dever de proteger as pessoas, são gênios da humanidade. Esse é meu caso! Como você sabe, o meu aniversário é em 12 agosto. E essa é uma das datas mágicas. Pode procurar na internet – arrematou.
Após 10 minutos, encerrada a pequena história dos anjinhos, acabava a caminhada pela rua da Carioca. O casal chegava à avenida Rio Branco. Ali, fazem sinal e embarcam num táxi. Como destino, bandeira dois, a ilha grega de Folégandros. A viagem seria um pouco longa. Mas lá, naquele paraíso mediterrâneo, estava escrito que teriam dois filhos. Presentes dos deuses gregos. A impressão é de que serão felizes para sempre. No rádio do carro tocava a música “Anjo”, daquele conjunto Roupa Nova: “Fique em silêncio, deixe o amor entrar”.


A música funciona como signo sinal. Ela, então, se lembra de um pensamento ouvido recentemente:

“O mundo pode agora surgir com sua bela singeleza. As flores têm agora o perfume original de sua castidade. A vida é um contínuo chegar de esperanças.”

Já era o dia 22 de dezembro de 2012. Já a Era de Aquários. E o mundo não tinha acabado.


P. S. EU TE AMO.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Para Febea





Espero que esteja bem por aí. Escrevo hoje essas pequenas linhas na forma de homenagem, dedicatória e oração à sua presença que tanto iluminou nosso Planeta Terra em sua breve passagem por aqui. O Sylvio me fala muito de você. Diz que tem saudades. Ele diz também que vocês foram muito felizes nos 19 anos de casados aqui embaixo. Ele tem verdadeira admiração por você. E isso é bonito de ver. As meninas estão ótimas. Ouço falar que no início foi difícil pra elas. Não seria diferente. Você foi uma mãe maravilhosa, presente. Você foi um presente. Você é! Tenho certeza de que está orgulhosa das belas e fortes mulheres em que se transformaram as suas pequenas. Você também deve estar orgulhosa por ser avó. Seus três netos são pessoas muito especiais: Ligia, Manuela e André. Três italianinhos. Oh, raça forte! Você lembra de quando teus últimos dois netos nasceram? Você se lembra da Dani, amiga-irmã das meninas? Pois não é que a Isabella, a Gabi e a Dani tiveram filhos em sequência, num espaço de 21 dias entre o nascimento de seus bebês? O Sylvio me disse que uma vez você comentou com ele que quando a Isa engravidasse, a Gabi também engravidaria logo em seguida. Ou vice-e-versa. E aconteceu. E Dani, então? Sabe que aquela viagem que você organizou pra ela ir à Itália com a Isabella deu frutos? Você nem imagina. Ela virou professora de italiano. Ou melhor, sei que você imagina. Sei que está vendo tudo aí de cima sim. A casa de Itaipava está lá do mesmo jeito que você deixou. A única diferença é que o Sylvio construiu um chalé, como você deve acompanhar. De resto, está tudo está aqui, igualzinho. Apenas se passaram alguns anos. Mais precisamente 26 anos. Foram longos, mas passaram. Ah, e sabe o livro do Salinger que o Sylvio te deu em 1966, em Milão, quando vocês eram namorados, com uma linda dedicatória? Encontramos ele. Faremos uma reunião para celebrar você em torno dele. Vai ter um monte de gente legal aqui que vai te conhecer um pouquinho. Benção, Febea. Fica com Deus! Ci vediamo!

Rio de Janeiro, 6 de novembro de 2012, Planeta Terra.

domingo, 28 de outubro de 2012

Arquitetura






Arquitetura






Conjugado num apartamento
amor deixa de ser vento.
Passa a ser casa.
Passa a ser chão.
Passa a ser asa.
Deixa de ser brasa. Passa a ser fogo.
Fogão, brasão, cama e mesa.
Deixa de ser escassez. Passa a ser riqueza.
Lucidez.
Deixa de ser sonho. Vira teto.
Deixa de ser ideia. Vira concreto.
Parede com parede.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A Metáfora da Chegada





Há de raiar um novo dia. Mesmo que a esperança se transforme em poesia. Jesus Cristo já sabia. Muitos lhe virariam as costas. “Pedro, Pedro, ao cantar do galo tu me negarás três vezes”, assim ele dizia, assim confirmou-se. E aconteceu com José e Maria. Quando o Menino-Deus dentro da barriga da mãe ia, o casal procurava um hotel em Belém de Nazaré onde desse à luz Maria. Um pouco de conforto era justo com forasteiros cansados em busca de hospedaria, em busca de revelar o Messias. Há de raiar um novo dia. Jesus Cristo já sabia.

No entanto, os insensíveis donos de hotéis da cidade de Belém julgaram o casal, como sempre os humanos fazem. Donos de hotéis são humanos: preconceitos e arrogâncias trazem. E julgaram o casal de forasteiros pela aparência. Eles, os donos de hotéis, acharam que José e Maria não eram dignos de dormir em suas luxuosas camas, de se secar com suas caríssimas toalhas. Homem, homem! Todo homem tem falhas. A pouca fé é uma delas. Não espalha. Às vezes o fogo é só de palha. Mas voltando aos donos de hotéis, eles tiveram pouca fé. Com certeza. Duvidaram, sem certezas. Foram omissos.

Acreditar. Basta acreditar. O melhor acontece. Deixa estar. Deixa na sala de estar. Deixa na estrebaria. Jesus Cristo já dizia. Na manjedoura nasceria. Em condições precárias, mas nas condições que merecia. Há de raiar um novo dia. Jesus Cristo já sabia. Jesus Cristo perdoou os pobres donos de hotéis que não gostavam de poesia, que a seus pais negaram moradia. Ele disse: faça-se a luz e a luz se fez. Ontem, hoje e sempre, de uma só vez. A metáfora da chegada é a mesma da partida. Por que chegada sem partida é incompleta, é vazia. É ciclo que não se fecha. O melhor acontece pra cada um. Somos Um. Jesus Cristo já sabia.

Cinquenta Anos em Cinco





Diretor completa 50 anos de carreira preparado para mais 50



Cacá Diegues é um ilustre representante da boa safra do outono de 1940 das Alagoas, onde nasceu na capital do Estado, Maceió. Dono de uma fala pausada e gentil, Cacá é um dos maiores nomes do cinema nacional. Ao lado de cineastas como Glauber Rocha como um dos criadores do Cinema Novo, Cacá segue empunhando sua câmera e lançando seu olhar de cronista audiovisual sobre a realidade brasileira.

Em 2012 o cineasta completa 50 anos de carreira, desde que lançou seu primeiro longa “5 X Favela”, em 1962. O bom momento foi no celebrado no último dia 15 de outubro, quando ele foi homenageado pela 11ª edição do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, promovido pela Academia Brasileira de Cinema, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

“Me sinto muito novo para receber esta homenagem. Mas ao mesmo tempo é uma honra pois ela vem do reconhecimento dos meus pares, cineastas”, disse Cacá, ao final da cerimônia. “Vou filmar até meu último suspiro”, completa ele que assina ao lado da mulher, Renata de Almeida Magalhães, a produção do filme “5 X Pacificação”, documentário sobre as UPPs, lançado pela Luz Mágica, empresa do casal, previsto para entrar no circuito em novembro. Entre um filme e outro - Cacá também produziu “Giovanni Improtta”, dirigido e interpretado por José Wilker, baseado no personagem do novelista Agnaldo Silva – ele dirigiu o clip Kamasutra, que integrou o 27º álbum da carreira do Tremendão Eramos Carlos, recentemente lançado. “Foi uma experiência excitante e prazerosa" , confidencia Cacá.

E como 50 anos de carreira no caso do cineasta não é sinônimo de aposentadoria, no ano que vem ele roda o filme “ O Grande Circo Místico”, baseado no poema de Jorge de Lima, que virou peça de teatro e, em 2013, vai se transformar em filme, 30 anos após a montagem do espetáculo. A trilha sonora também será assinada por Chico Buarque e Edu Lobo e o papel principal, convite feito, convite aceito, será do ator Lázaro Ramos. Mais uma produção da Luz Mágica.

O sucesso por detrás das câmeras e a produção audiovisual contínua têm seu nome nos créditos nas telas de Cacá. Há 31 anos, ele é casado com a produtora Renata de Almeida Magalhães, filha do advogado e político brasileiro, Raphael de Almeida Magalhães, falecido no ano passado. Juntos, os dois tiveram a filha Flora Diegues, 25 anos, a única dos três filhos de Cacá que seguiu os passos do pai. Os outros são Isabel e Francisco Diegues, filhos da união com a cantora Nara Leão. Isabel dedica-se à sua editora Cobogó e Francisco tem uma empresa de tecnologia. A outra “filha” de Cacá é Julia São Paulo, do primeiro casamento de Renata, mas praticamente criada pelo diretor e produtor de cinema. Sobre a esposa, ele diz: “A Renata mudou a minha vida. Somos casados e sócios. Ela manda em mim em casa e na rua”, brinca. E para Nara Leão, de quem ele se separou 12 anos antes da morte da cantora, em 1989, Cacá só tem elogios. “Nara foi uma das grandes mulheres brasileiras de seu tempo".

E assim, rodeado pela família e cheio de projetos, Cacá Diegues vai comemorando 50 anos de carreira. “Me sinto oxigenado e pronto para mais 50 anos”, finaliza. E já que o número do momento de Cacá é o “cinco”, são cinquenta anos em cinco, como dizia o slogan da campanha do ex-presidente Juscelino Kubitschek.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Tio és también padre





Un tío tan cerca como se quiere.
y que se vá.
A lo lejos, en un instante, distintamente.
Hacia a debajo de tierras latinas, altiplanas, hermanas.
A juntarse a la pachamama.
Si, son tierras bolivianas.
Tío, tío, tío también és padre.
Tío con la misma sangre, de la misma raza.
Del mismo compás y dibujo.
Tío, te lo juro:
otras dimensiones te abrazam para seguir tu viaje.
Otras encarnaciones.
Lleva en tu equipaje
nuestra ultima cita el La Paz.
El último CD de jazz.
El último bolero.
Eso espero.
Tio querido, hasta siempre, hasta pronto.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

No Metrô






Desço as escadas rolantes.
O coração bate forte,
ofegante.
No outro lado da estação,
na linha do horizonte
ali defronte, ao norte.
A felicidade me sorri, diz adeus.
E foge.
Oh, meu São Jorge,oh, meu São Jorge.
É a morte, é a morte,
meu Deus!