Palavras à Milanesa

Palavras à Milanesa
Não! Este blog não é de gastronomia. Mas de palavras. À Milanesa. Palavras simples como este prato de arroz com feijão, bife e batata frita.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Encontro das Artes




Procuro a verdade
Que seja dito
popular.
A música que seja pra pular.
O verso que seja livre,
O livre arbítrio.
O leve delito.
A flambada cereja.
O bolo de chocolate.

Procuro a melhor parte
Do ser que seja:
Eu = Você.
O beijo teu que me esqueceu.
Procuro o cinema que seja
conceitual.
O teatro reflexivo.
O Amor explosivo.
O amor calmo.
Sem tudo isso eu não vivo.
Onde está a flecha, cadê o alvo?

Onde está minha canoa?
Com quantos paus se faz uma?
Vou pra Araruama, vou pra Araruama.
Ver se lá eu me arrumo.
Vou de canoa, vou sem rumo.

Procuro a pintura expressionista.
O melhor quadro.
A minha artista, a mulher que eu enquadro.
É você que trago, que respiro.
Você é meu encontro das artes.
Encontro comigo mesmo.
Consigo mesmo. Você eu consigo mesmo.

domingo, 30 de dezembro de 2012

A mulher amada





A mulher amada precisa gostar de vinho tinto seco e da pizza “paulistana” do Bráz. Precisa ter dentes brancos, lábios macios e a alma leve. Deve ficar à vontade ao falar de si mesma. E ter a certeza de que morar no Grajaú é a melhor coisa do mundo. Precisa gostar de Quintana, de quintal e de fruta no pé. Torcer pelo Fluminense e o ter paladar infantil é fundamental. Uma pequena dose de timidez a faz ficar extremamente charmosa.

A mulher amada é simples. E é sofisticada. Tem o sorriso mais lindo e a pele branquinha, suavemente avermelhada, queimada pelos cinquenta tons de cinza do sol da praia de Ipanema. Ela precisa saber que tem pressão alta. Mas que pretende que fique normal. Que quer voltar a fazer exercício e que seu joelho não vai lhe atrapalhar. Ah, precisa aprender a usar o telefone celular. Para emergências. Também precisa gostar de nadar em mar aberto e, de vez em quando, fazer alguma travessia. Com regularidade, muitas travessuras. Estar atenta às fases da lua e ao movimento das marés é de bom tom.

A mulher amada pode até ser uma melancólica otimista, mas nunca o contrário. Por que a melancólica otimista sempre tem uma ponta de esperança. Ela precisa não querer ser beijada na primeira noite, mas ter uma vontade grande de que isso aconteça nos encontros seguintes. Ah, a mulher amada! Dada a receita fica fácil. Ela é tão amada e tão doce que não precisa de nada. Só de ser amada. A mulher amada precisa ser ela, a guiar, como anjo, o coração daquele que ama. Ela é simplesmente adorável. Ou não?





terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Táxi para Folégandros




Era madrugada. O casal caminhava pela rua da Carioca, no centro do Rio. A via estava deserta. No meio do caminho havia pedras. E lixo, muito lixo. E ratos. Eram muitos e se aproveitavam da sujeira humana, de raspas e restos, armando ali mesmo seu banquete. Ao ver os ratos, a moça de vestido branco - branco como a pureza de sua alma - sentiu medo. Pelos ratos e por ela.
O que seria de sua vida num futuro próximo? Agarrou-se, então, ao braço de seu companheiro e ali encontrou conforto. Ficaram em silêncio por instantes e depois riram. Àquela altura da rua da Carioca, aquela hora da madrugada, naquele exato instante, não havia palavras para se descrever o sentimento do mundo. Foi então que ele fez uma pergunta a ela:
- O que você quer da vida?
- Perguntinha difícil - disse ela, respondendo sem responder.
E voltaram novamente para seus pensamentos e reflexões.

Em seguida, a moça de vestido branco, como que rompendo novamente o silêncio, conta então uma curiosidade:
- Sabe que existem pessoas na Terra que são anjos? Todos têm seus anjos da guarda, mas algumas pessoas nascidas em determinadas datas não os têm por que são elas os próprios anjos. Têm o dever de proteger as pessoas, são gênios da humanidade. Esse é meu caso! Como você sabe, o meu aniversário é em 12 agosto. E essa é uma das datas mágicas. Pode procurar na internet – arrematou.
Após 10 minutos, encerrada a pequena história dos anjinhos, acabava a caminhada pela rua da Carioca. O casal chegava à avenida Rio Branco. Ali, fazem sinal e embarcam num táxi. Como destino, bandeira dois, a ilha grega de Folégandros. A viagem seria um pouco longa. Mas lá, naquele paraíso mediterrâneo, estava escrito que teriam dois filhos. Presentes dos deuses gregos. A impressão é de que serão felizes para sempre. No rádio do carro tocava a música “Anjo”, daquele conjunto Roupa Nova: “Fique em silêncio, deixe o amor entrar”.


A música funciona como signo sinal. Ela, então, se lembra de um pensamento ouvido recentemente:

“O mundo pode agora surgir com sua bela singeleza. As flores têm agora o perfume original de sua castidade. A vida é um contínuo chegar de esperanças.”

Já era o dia 22 de dezembro de 2012. Já a Era de Aquários. E o mundo não tinha acabado.


P. S. EU TE AMO.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Para Febea





Espero que esteja bem por aí. Escrevo hoje essas pequenas linhas na forma de homenagem, dedicatória e oração à sua presença que tanto iluminou nosso Planeta Terra em sua breve passagem por aqui. O Sylvio me fala muito de você. Diz que tem saudades. Ele diz também que vocês foram muito felizes nos 19 anos de casados aqui embaixo. Ele tem verdadeira admiração por você. E isso é bonito de ver. As meninas estão ótimas. Ouço falar que no início foi difícil pra elas. Não seria diferente. Você foi uma mãe maravilhosa, presente. Você foi um presente. Você é! Tenho certeza de que está orgulhosa das belas e fortes mulheres em que se transformaram as suas pequenas. Você também deve estar orgulhosa por ser avó. Seus três netos são pessoas muito especiais: Ligia, Manuela e André. Três italianinhos. Oh, raça forte! Você lembra de quando teus últimos dois netos nasceram? Você se lembra da Dani, amiga-irmã das meninas? Pois não é que a Isabella, a Gabi e a Dani tiveram filhos em sequência, num espaço de 21 dias entre o nascimento de seus bebês? O Sylvio me disse que uma vez você comentou com ele que quando a Isa engravidasse, a Gabi também engravidaria logo em seguida. Ou vice-e-versa. E aconteceu. E Dani, então? Sabe que aquela viagem que você organizou pra ela ir à Itália com a Isabella deu frutos? Você nem imagina. Ela virou professora de italiano. Ou melhor, sei que você imagina. Sei que está vendo tudo aí de cima sim. A casa de Itaipava está lá do mesmo jeito que você deixou. A única diferença é que o Sylvio construiu um chalé, como você deve acompanhar. De resto, está tudo está aqui, igualzinho. Apenas se passaram alguns anos. Mais precisamente 26 anos. Foram longos, mas passaram. Ah, e sabe o livro do Salinger que o Sylvio te deu em 1966, em Milão, quando vocês eram namorados, com uma linda dedicatória? Encontramos ele. Faremos uma reunião para celebrar você em torno dele. Vai ter um monte de gente legal aqui que vai te conhecer um pouquinho. Benção, Febea. Fica com Deus! Ci vediamo!

Rio de Janeiro, 6 de novembro de 2012, Planeta Terra.

domingo, 28 de outubro de 2012

Arquitetura






Arquitetura






Conjugado num apartamento
amor deixa de ser vento.
Passa a ser casa.
Passa a ser chão.
Passa a ser asa.
Deixa de ser brasa. Passa a ser fogo.
Fogão, brasão, cama e mesa.
Deixa de ser escassez. Passa a ser riqueza.
Lucidez.
Deixa de ser sonho. Vira teto.
Deixa de ser ideia. Vira concreto.
Parede com parede.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A Metáfora da Chegada





Há de raiar um novo dia. Mesmo que a esperança se transforme em poesia. Jesus Cristo já sabia. Muitos lhe virariam as costas. “Pedro, Pedro, ao cantar do galo tu me negarás três vezes”, assim ele dizia, assim confirmou-se. E aconteceu com José e Maria. Quando o Menino-Deus dentro da barriga da mãe ia, o casal procurava um hotel em Belém de Nazaré onde desse à luz Maria. Um pouco de conforto era justo com forasteiros cansados em busca de hospedaria, em busca de revelar o Messias. Há de raiar um novo dia. Jesus Cristo já sabia.

No entanto, os insensíveis donos de hotéis da cidade de Belém julgaram o casal, como sempre os humanos fazem. Donos de hotéis são humanos: preconceitos e arrogâncias trazem. E julgaram o casal de forasteiros pela aparência. Eles, os donos de hotéis, acharam que José e Maria não eram dignos de dormir em suas luxuosas camas, de se secar com suas caríssimas toalhas. Homem, homem! Todo homem tem falhas. A pouca fé é uma delas. Não espalha. Às vezes o fogo é só de palha. Mas voltando aos donos de hotéis, eles tiveram pouca fé. Com certeza. Duvidaram, sem certezas. Foram omissos.

Acreditar. Basta acreditar. O melhor acontece. Deixa estar. Deixa na sala de estar. Deixa na estrebaria. Jesus Cristo já dizia. Na manjedoura nasceria. Em condições precárias, mas nas condições que merecia. Há de raiar um novo dia. Jesus Cristo já sabia. Jesus Cristo perdoou os pobres donos de hotéis que não gostavam de poesia, que a seus pais negaram moradia. Ele disse: faça-se a luz e a luz se fez. Ontem, hoje e sempre, de uma só vez. A metáfora da chegada é a mesma da partida. Por que chegada sem partida é incompleta, é vazia. É ciclo que não se fecha. O melhor acontece pra cada um. Somos Um. Jesus Cristo já sabia.

Cinquenta Anos em Cinco





Diretor completa 50 anos de carreira preparado para mais 50



Cacá Diegues é um ilustre representante da boa safra do outono de 1940 das Alagoas, onde nasceu na capital do Estado, Maceió. Dono de uma fala pausada e gentil, Cacá é um dos maiores nomes do cinema nacional. Ao lado de cineastas como Glauber Rocha como um dos criadores do Cinema Novo, Cacá segue empunhando sua câmera e lançando seu olhar de cronista audiovisual sobre a realidade brasileira.

Em 2012 o cineasta completa 50 anos de carreira, desde que lançou seu primeiro longa “5 X Favela”, em 1962. O bom momento foi no celebrado no último dia 15 de outubro, quando ele foi homenageado pela 11ª edição do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, promovido pela Academia Brasileira de Cinema, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

“Me sinto muito novo para receber esta homenagem. Mas ao mesmo tempo é uma honra pois ela vem do reconhecimento dos meus pares, cineastas”, disse Cacá, ao final da cerimônia. “Vou filmar até meu último suspiro”, completa ele que assina ao lado da mulher, Renata de Almeida Magalhães, a produção do filme “5 X Pacificação”, documentário sobre as UPPs, lançado pela Luz Mágica, empresa do casal, previsto para entrar no circuito em novembro. Entre um filme e outro - Cacá também produziu “Giovanni Improtta”, dirigido e interpretado por José Wilker, baseado no personagem do novelista Agnaldo Silva – ele dirigiu o clip Kamasutra, que integrou o 27º álbum da carreira do Tremendão Eramos Carlos, recentemente lançado. “Foi uma experiência excitante e prazerosa" , confidencia Cacá.

E como 50 anos de carreira no caso do cineasta não é sinônimo de aposentadoria, no ano que vem ele roda o filme “ O Grande Circo Místico”, baseado no poema de Jorge de Lima, que virou peça de teatro e, em 2013, vai se transformar em filme, 30 anos após a montagem do espetáculo. A trilha sonora também será assinada por Chico Buarque e Edu Lobo e o papel principal, convite feito, convite aceito, será do ator Lázaro Ramos. Mais uma produção da Luz Mágica.

O sucesso por detrás das câmeras e a produção audiovisual contínua têm seu nome nos créditos nas telas de Cacá. Há 31 anos, ele é casado com a produtora Renata de Almeida Magalhães, filha do advogado e político brasileiro, Raphael de Almeida Magalhães, falecido no ano passado. Juntos, os dois tiveram a filha Flora Diegues, 25 anos, a única dos três filhos de Cacá que seguiu os passos do pai. Os outros são Isabel e Francisco Diegues, filhos da união com a cantora Nara Leão. Isabel dedica-se à sua editora Cobogó e Francisco tem uma empresa de tecnologia. A outra “filha” de Cacá é Julia São Paulo, do primeiro casamento de Renata, mas praticamente criada pelo diretor e produtor de cinema. Sobre a esposa, ele diz: “A Renata mudou a minha vida. Somos casados e sócios. Ela manda em mim em casa e na rua”, brinca. E para Nara Leão, de quem ele se separou 12 anos antes da morte da cantora, em 1989, Cacá só tem elogios. “Nara foi uma das grandes mulheres brasileiras de seu tempo".

E assim, rodeado pela família e cheio de projetos, Cacá Diegues vai comemorando 50 anos de carreira. “Me sinto oxigenado e pronto para mais 50 anos”, finaliza. E já que o número do momento de Cacá é o “cinco”, são cinquenta anos em cinco, como dizia o slogan da campanha do ex-presidente Juscelino Kubitschek.