Palavras à Milanesa

Palavras à Milanesa
Não! Este blog não é de gastronomia. Mas de palavras. À Milanesa. Palavras simples como este prato de arroz com feijão, bife e batata frita.

domingo, 24 de abril de 2011

A SAÚDE E A FORTUNA

Entramos no quiosque de flores. Sugiro às crianças que levem para a avó alguma flor que simbolize saúde. A mais próxima sugerida pela atendente é a fortuna.

- Papai, por que essa flor se chama fortuna? A primeira pessoa que comprou ela ficou rica?
- Filhinha, papai não sabe. Vamos pesquisar na internet?
- Tá bom, papai.

Havíamos acabado de comprar um vaso cheio de fortunas e outro de begônias para a avó dos meus filhos, que se tratava de um câncer e estava hospitalizada, quando Clara, de 8 anos e meio, fez a pergunta sobre o nome da flor da fortuna. Era domingo de Páscoa. Pouco antes, ainda no quiosque, uma senhora que declarou-se avó também, se encantou com o gesto e o carinho demonstrado pelas crianças, interessadas que estavam em escolher bonitas flores para a avozinha.

- Estão levando as flores para sua mãe? – perguntou, curiosa.
- Não! É pra nossa avó que está doente no hospital – disseram os dois, quase como se tivessem combinado a resposta.
- Nota-se que vocês são crianças muito bem educadas. Parabéns! – retrucou a senhora.

Ao me perceber diretamente elogiado, eu, que ainda estava me sentindo culpado por ter brigado e perdido a paciência com os dois, pouco antes, em casa, pensei imediatamente com meus botões:

- Essa senhora não sabe de nada. Elogio pra mim? Eu mereço? Bem educados? Acabo de perder a cabeça com meus filhos e olha só o resultado. Mas em minha defesa rapidamente também pensei: - Amor também se planta, se semeia, aqui estou eu tentando equilibrar o jogo.

Chegamos à clínica e o resultado não poderia ter sido outro. A avó se encantou com o presente e com os cartões das crianças. A voz ficou embargada. Naquela posição de fragilidade, não perdeu o rebolado nem mesmo quando uma das crianças perguntou o que era o zigue zague que ela tinha no rosto.

- Zigue zague??? Espantaram-se os adultos ao lado, para em seguida concluírem que poderia ser uma referência às rugas da avó.

Criança não se aperta de jeito nenhum, pensei. Se não sabem nominar o que querem dizer, imediatamente inventam a palavra e são entendidas. Ai dos pais se não entendem.

Após o comentário, ganharam seus ovinhos da vovó e saíram, felizes, alma leve e lavada, para o almoço de Páscoa!


Resultado da história da fortuna: dinheiro não nasce em árvore mas amor nasce. As crianças acabam de provar isso.


Em tempo: Fui à internet e pesquisei. Diz a wikipedia: A flor-da-fortuna (Kalanchoe blossfeldiana) pertence à família das crassuláceas, originária da África. Possui folhas suculentas sendo resistente ao calor e a pouca água. Os tons desta linda flor, variam entre vermelho, alaranjado, amarelo, rosa, lilás e branco. Abre parênteses: a fortuna escolhida pela Clara era amarelinha. Geralmente alcança uma altura máxima de 30 cm e se adapta a um solo solto bem drenado e fértil. Os locais indicados para o cultivo são lugares bem iluminados (varandas e jardins), pois a planta é bastante resistente. As folhas e as flores não devem ser molhadas, porque podem apodrecer.

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