Palavras à Milanesa

Palavras à Milanesa
Não! Este blog não é de gastronomia. Mas de palavras. À Milanesa. Palavras simples como este prato de arroz com feijão, bife e batata frita.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Sobre Escadas, Memórias e Outros Planos





Meu nome é Theobaldo. E nas minhas memórias de infância e juventude tenho registrado que usei e abusei de escadas. Na infância, morávamos num apartamento térreo, em Copacabana, mas nosso prédio tinha uma longa (para mim à época) escada, que dava acesso da rua ao primeiro andar, onde ficavam os apartamentos térreos. Assim, eu não tinha outra alternativa que não subir pelas escadas (longas para mim à época) que davam acesso ao nosso apartamento. Eram outros tempos, e eu tinha fôlego pra isso.

Mais tarde, eu cresci, mas continuei usando as escadas para ter acesso a outras portas dimensionais. No caso, a porta do apartamento do meu pai, na Glória.. Ele morava numa cobertura. O elevador só ia até o 12º andar e nós precisávamos subir mais um lance (longo para mim à época) de escadas. O prédio era antigo. O elevador mais ainda. Não foram raras as vezes em que chegávamos e o elevador estava parado para manutenção. E como era cobertura, só tínhamos um elevador que nos servia. E aí não restava outra opção que não subir os treze andares de escada. Eram outros tempos. Eu tinha fôlego pra isso.

Mais tarde ainda, as escadas continuaram presentes na minha vida. Sempre que eu queria alcançar outras dimensões, eu me conectava com as escadas. Eu tive uma namorada que morava no Grajaú. O prédio dela eram dois apartamentos por andar. Uma noite, chegamos à casa dela bastante animados por assim dizer. Como tínhamos certeza de que os vizinhos do lado não estavam, começamos “os trabalhos”, se é que me entende, ali mesmo no hall, nas escadas de serviço do andar dela. Foi uma experiência incrível. Fui a outras dimensões, fomos às nuvens. Até então, eu era um pouco travado pra essas coisas, mas depois desse dia, eu me libertei. Libertei a literatura que estava em mim e o sexo também. Tinha toda uma energia sexual dentro de mim prestes a explodir. E explodiu. Eram outros tempos. Eu tinha fôlego pra isso!

Bem mais tarde ainda, eu me casei. Na vida de casados sempre moramos em andares baixos, tipo até o segundo piso. Assim, eu dava preferência para usar as escadas a fim de ter acesso aos apartamentos em que moramos nos diferentes períodos do nosso casamento. Os três filhos vieram e eu ensinei isso pra eles: “Usem sempre as escadas”, eu dizia. E ia junto com eles, acompanhando-os no subir e descer lépido e fagueiro infantil. Eram outros tempos e eu tinha bem mais fôlego pra isso.

Bem, bem mais tarde ainda, eu me separei. Mas continuei subindo e descendo escadas. Como os antigos incas, eu acredito que escadas são a única forma de atingir ao plano divino. Eu ainda não atingi este plano, mas estou no caminho – e pelas escadas. O tempo passou. Juntei o elemento “chave” às escadas. Afinal, elas podem de fato até nos levar a novos planos dimensionais, mas se você não tiver “a” chave, não vai adiantar nada. Vai chegar e ficar ao relento, do lado de fora e sabe-se lá em que dimensão. Estou em busca do ágape, o amor universal. E em outra dimensão. Vou pelas escadas. Afinal, são outros tempos. Tenho muito fôlego pra isso.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O Chato Simpático








Quem é esse chato, o assessor de imprensa? Há de ser uma pessoa que goste de acordar cedo, mas não tão cedo. Para assim tomar contato com a notícia, por meio dos jornais, antes de todos. Não precisa ser um fanático pela notícia. Mas é preciso que corra atrás dela, que a valorize. Estar antenado com tudo o que se passa à sua volta, na pequena e na grande esfera, é uma condição importante. Para ser um bom assessor de imprensa é preciso ler diariamente os principais jornais e saiba quem são as pessoas que estão do outro lado, na redação. É importante que tenha boa memória, que cumprimente o repórter e o editor pelo nome ( desejável).
Precisa também ser persistente. Mais do que o repórter. E saber conquistar sua confiança com boa conduta e boa índole. É necessário que saiba a hora certa de ligar para as redações. Nunca nas horas de fechamento. Precisa também ter noção do que é uma nota para não oferecer bobagens para o colunista e não queimar a si e a seu cliente. Precisa demonstrar boa educação, saber abordar e saber, sobretudo, ouvir um “não”. E quando houver espaço retrucar esse “não” e saber reverter o quadro.
Com o mercado profissional enxuto, às vezes com poucas opções nas redações, não é mais urgente que passe por uma grande redação. Com a difusão das assessorias de imprensa é cada vez maior o número de universitários que se formam e vão direto trabalhar numa assessoria, seja ela uma empresa especializada na área, ou mesmo uma grande empresa que dispõe de um departamento de imprensa.
Mas fique tranquilo se você não tem todas essas características. Tudo na vida é uma questão de treino.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Foi-se o inverno





Este inverno foi dose. Dose pra leão, pra mate leão e nem foi essa coca-cola toda. Dose foi também ter que matar mais de um leão por dia, pagar as contas com atraso e conviver com a carestia. Foi o inverno da foice, do vergalhão ou de qualquer instrumento pérfuro cortante, contundente que despenca rumo à cobertura de carne do trabalhador civilizado. Entre mortos e feridos, salvaram-se alguns. Pelo menos os três cidadãos que foram atingidos ou atingiram vergalhões enquanto labutavam, lutavam pelo ganha-pão ou soltavam pipa. Milagre. Pode-se assim dizer. Outros dirão que não foi chegada a hora. O fato é este inverno também foi o inverno dos acidentes dos BRTs na Transoeste. Seja lá o que significa BRT ( parece sigla de partido político sem o “p” de partido), parece que as pessoas têm andado apressadas demais . Demais da conta. E no final das contas, vão ter que acertá-las mesmo é com O cara lá de cima. A pressa é inimiga da perfeição. A pressa mata! Não mate leão, não mate! A pressa passou apressada e mandou lembranças. Passou a mais de 100 por hora e atropelou a esperança. Não deixe que sua pressa atrapalhe sua esperança e mate a si mesmo no meio do caminho. Pois se no meio do caminho tinha uma pedra, vamos removê-la, vamos largá-la. A via é larga, mas passa um de cada vez. Vamos juntos que atrás vem gente. Avante. Agora chega a primavera. Prima irmã do verão, que antecede. Vamos com prudência, sem pressa demais, sem muita sede ao pote, apenas esvaziá-lo e tornar a enchê-lo. Com paciência e zelo. Viva à primavera! Melhores dias agora, melhores dias no verão, melhores dias virão!

domingo, 16 de setembro de 2012

O beijo






O beijo nu.

O beijo nu espalha suas marcas pelo espelho.

O beijo nu espalha seus segredos pelo espelho da cômoda que não se incomoda.

O beijo vira moda.

Moda de viola.

O beijo viola os sentidos.

O beijo, crente que é gente, não me dá ouvidos.

domingo, 12 de agosto de 2012

Não Basta Ser Filho



Eles são filhos e trabalham com os pais


Parodiando o comercial, muitas vezes não basta ser filho. Tem que participar. Muitos filhos têm acompanhado os sonhos profissionais de seus pais, transformando-os em seus próprios sonhos. E em sua maneira de ganhar a vida.

Aos 30 anos, formado em comunicação social pela UniverCidade, René Wegner é um exemplo disso. Formado em 2005, ele mal deu as caras à profissão que escolheu antes do vestibular. Assim que se formou, largou o estágio em marketing num shopping do Rio. O movimento coincidiu com o fato de seus pais abrirem, naquele ano, a Hidrovida – Atividades Aquáticas, na Gávea, uma academia de natação para adultos e crianças, que tem ainda hidroterapia, hidropilates, atividades voltadas para gestantes, entre outras.

Desde então, já são sete anos que René administra a Hidrovida, ao lado seu pai, o engenheiro civil Ronaldo Wegner, e da mãe, a fisioterapeuta e professora de educação física Sandra Jabur Wegner, que é a coordenadora geral do centro de atividades aquáticas.

Para René, o principal desafio é separar a vida familiar da profissional, tanto na Hidrovida, quanto em casa. “Há 3 anos decretei que não teria mais jantar de negócios às 22h, no sofá da sala".

No ramo da cultura e das letras, a história mais ou menos se repete. O professor de literatura brasileira no ensino e da universidade de teoria literária, Carlos Afonso garante que não se afastou da sala da aula há quase 20 anos, quando fundou a Toca do Vinícius, primeiro numa galeria na rua Visconde de Pirajá, tendo migrado depois de um ano e meio para a rua Vinicius de Moraes.

“A Toca é um projeto pedagógico e educacional. Hoje, sou mais educador do que quando estava numa sala de aula”, destaca Carlos. Seus filhos, hoje na faixa dos 30 anos, já eram adolescentes quando Carlos Alberto e sua esposa Natalina abriram Toca. Aline, Leila e Carlos ( filho) que passaram agradáveis anos atrás do balcão da Toca, hoje de certa forma ainda trabalham com seu pai.

Leila, a primogênita, administra, ao lado de seu primo, a livraria Bossa Nova & Cia, no Beco das Garrafas, em Copacabana, que é um desdobramento da Toca. Cacá, o filho, é hoje professor de literatura em Berlim, na Alemanha, seguindo os passos de pai, e Aline, a filha do meio, formada em comunicação social, que também mora na Alemanha, trabalha como web designer e é responsável pelo site da Bossa Nova & Cia, entre outros materiais gráficos da Toca do Vinícius. “Trabalho hoje com minha filha pelo skype”, diz o pai gaiato.

sábado, 4 de agosto de 2012

Quem Tem Medo de Taumaturgo Marona?






- Alguém aqui conhece o senhor Taumaturgo Marona? Embora possa parecer embaraçosa, a pergunta faz-se necessária nesse interrogatório. Ele é um cidadão que representa perigo à sociedade, uma pessoa claramente má. Isso já é perceptível para todos nessa delegacia, que a partir de agora o considera um foragido da Justiça. A última vez que o elemento foi visto, ele caminhava pelo centro histórico da cidade de Paraty, na costa verde do Rio de Janeiro, em atitude suspeita, relatou o delegado.

Marona lá esteve para lançar, dentro de festejado evento literário, seu livro: “Autobiografia de um Iogue – O pegador da Travessa” ( editora Oito e Meio). O projeto de galã estava lá ainda para paquerar as meninas e – dizem as línguas mais ferinas - também alguns meninos do Clube da Leitura, festejado coletivo que se reúne quinzenalmente com objetivo de ler e escrever contos e falar da vida alheia.
Tal e qual um conhecido jornalista, que acaba de lançar um livro no qual narra histórias com amigas reais e ficcionais, Marona repete a fórmula transpondo-a para sua autobiografia, citando nominalmente alguns integrantes do Clube da Leitura, com quem, jura, já teve alguma coisa.

No livro, estão os personagens Danielle Aguiar, Juliana Costa, Ana Claudia Goldschmidt, Maira Ribas, Loana Calomeni, Daniel Fernandes, George Preger, Guilherme Patiño e Julio Matos, todos integrantes do clube dos que já tiveram alguma coisa com Taumaturgo Marona. Num trecho da obra, a personagem de Danielle Aguiar assegura que Taumaturgo Marona é uma pessoa popular. – Ele é mega popular, diz ela toda animadinha. A personagem de Ana Claudia Goldschmidt, por sua vez, diz que o conhece sim e que ambos já ficaram numa das festas do DJ Acaro. Como a personagem de Ana Claudia estava em busca de um namorado que fosse atleta, ela se encantou por Taumaturgo Marona, que além de iogue e vendedor de livros, pratica natação em mar aberto.

Em outro trecho do livro de Marona, a personagem de Juliana Costa narra que conhece sim o autor e que ele seria amigo de um ex-namorado seu. Segundo ela, “rola papo”. Mas não é isso que vocês podem estar pensando, pois o personagem de Juliana Costa é muito fiel e comprometido com seu namorado. Outro personagem, o personagem de Daniel Fernandes se apressa em dizer, no livro, que em breve a editora Oito e Meio vai lançar o próximo livro de Taumaturgo Marona: será um livro com todos os tipos de receitas com pamonha. Como se sabe, aliás, o personagem do Daniel Fernandes trabalha na editora Oito e Meio e repete isso como um mantra em todos os eventos dos quais participa.

Na parte do livro a ele dedicada, o personagem de Guilherme Patiño, como se insinuasse que existe algo no ar, maldosamente destaca que, apesar de vários integrantes do Clube afirmarem conhecer Taumaturgo Marona, “ele, o Marona, se lembrou mesmo foi do Ribas”. Algumas páginas à frente, o personagem de George Preger levanta a possibilidade de Taumaturgo Marona ser filho do detetive Mauro Marona, vulgo Mauro Fofoca. O personagem de George Preger chegou a essa conclusão simplesmente pelo fato de o sobrenome Marona não ser muito comum. Mas enfim, após a suposição levantada pelo personagem do Preger, na sequência os personagens de Julio Matos e da Maira Ribas lavam as mãos e afirmam veementemente que não conhecem Taumaturgo Marona. E nem mesmo o pai dele. Por fim, a personagem de Loana Calomeni faz a linha curta, grossa e seca: “Declaro que não conheço Taumaturgo Marona.” E aí chegamos ao final do livro.

Corta para o serviço de escuta da delegacia:



“Atenção Atenção, uma viatura desta DP acaba de passar um rádio informando que o foragido Leonardo Marona foi detido em Paraty, mesmo lugar onde fora visto recentemente. Ao ser preso, o escritor, vendedor, iogue e atleta declarou que estava na cidade apenas para, por sugestão de seu editor Daniel Fernandes, pedir autorização ao jornalista Garton Ash para usar uma frase de seu livro “The File”, “Se pelo menos eu tivesse encontrado em toda essa busca uma única pessoa claramente má”, como epígrafe de seu próximo lançamento”. Definitivamente, Marona não é má pessoa. Quem tem medo de Taumaturgo Marona?