Palavras à Milanesa

Palavras à Milanesa
Não! Este blog não é de gastronomia. Mas de palavras. À Milanesa. Palavras simples como este prato de arroz com feijão, bife e batata frita.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Cláudia Raia comemora 30 anos de carreira com espetáculo autobiográfico entusiasmante no Teatro Oi Casa Grande





Pode uma artista ainda jovem para padrões artísticos aos 48 anos, recém completando 30 de carreira, fazer um espetáculo autobiográfico, contato sua história? Ou musicais que repassam carreiras são para os artistas já com idade avançada, ou mesmo falecidos? No caso da atriz e dançarina Cláudia Raia pode sim. Pois, para ela, o céu é o limite e o corpo é seu templo. Cláudia, como dito, está comemorando seus 30 anos de carreira, oficialmente iniciada na primeira metade dos anos 80, no programa Viva o Gordo, de Jô Soares, na TV Globo.
Para marcar a data redonda, Cláudia estreou em outubro, no Teatro Oi Casa Grande, no Leblon, o espetáculo “Raia 30”, com texto ganho de presente de Miguel Falabella, onde ela passa em revista sua vida. Desde o iniciozinho de suas ambições artísticas, aos 7 anos, quando se apresentou ao coreógrafo americano Lennie Dale ( “Eu sou Maria Cláudia Motta Raia!”) e disse que dançava igual a ele, passando por sua ida, sozinha, a Nova Iorque para estudar dança, aos treze anos, por sua atuação em novelas como Sassaricando e Rainha da Sucata, até os dias de hoje.
Como ela disse na coletiva de imprensa em que apresentou o espetáculo, entusiasmo é a palavra a define. E, como consequência, seu espetáculo, que conta com a participação de outros 14 excelentes atores-dançarinos, é entusiasmante do início ao fim. A montagem, extremamente caprichada no que se refere a cenários, figurinos e coreografia, é uma injeção de ânimo, com boas doses de humor e letras “entusiasmantes” para usar a palavra-Cláudia.
A trajetória da atriz representada no texto é uma aula de garra e determinação. No espetáculo, Cláudia contracena em flashback em alguns momentos com figuras como sua mãe que, cedendo à insistência da atriz em busca da carreira artística, acaba aceitando e incentivando seus passos. Em uma das passagens, sua mãe pondera: “Sempre se pode melhorar, minha filha”. E ela parece ter seguido à risca o conselho de sua mãe. Vendo Cláudia no palco esbanjando vigor e talento é impossível não se fazer a comparação com a atriz Marilia Pêra, falecida há poucos dias, que também pautou sua carreira pelo amor ao teatro e aos musicais.
Pelo que demonstra ao público,
Cláudia orgulha-se de nunca ter fugido da raia e parece estar no rumo certo. “Caminhante, não existe caminho. O caminho se faz ao caminhar”, como ela mesma diz no espetáculo, citando o verso do poeta espanhol António Machado. E até mesmo este simples resenhista acabou, pela sorte de estar na terceira fileira do Oi Casa Grande, cruzando o iluminado caminho da atriz. Ganhar um beijo seu foi um grande prazer, Cláudia. E não foi apenas imaginação!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

NOVE







“Marca a hora o relógio, mas o que é que marca a eternidade”? Walt Whitman


É mais uma tarde carnavalesca de verão em que o sol arde no bairro das Laranjeiras, dia 17 de fevereiro. E ele também é um sol. Foi pontual e preciso ao se desprender da barriga da mãe exatamente às 16h09min numa cesárea hercúlea. Num parto-chegada! Vamos combinar, queridos astros, que pelas combinações numéricas de dia e hora de nascimento ele é ímpar. E sendo ímpar, é também meu par, meu princípio, meu príncipe, meu retorno. Volver a los diecisiete. E agora me vejo voltando nove anos atrás àquele 17, e a sentir profundo como uma criança frente a Deus, como cantou Mercedes, a negra Sosa. Nove verões, nove carnavais, nove campeonatos cariocas depois. E aqui estamos. Como se não bastasse, é apaixonadamente Flamenguista, Fiel e Fanático, Francisco ao cubo, e com a bola nos pés. Sempre ela. Bola e Francisco, Francisco e bola. Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol? Além de dar tratos à bola, tem pinta de galã e artista, mas sou suspeito pelo fato de, com a ajuda da mãe, tê-lo feito. Estamos todos em festa na cidade do carná for all, neste país tropical de Dilmas e Rousseffs. É fevereiro, sou Flamengo, ele já tem um violão, não tenho um fusca, mas tenho um nego chamado Francisco, abençoado por Deus!

domingo, 29 de setembro de 2013

Via Dutra





Era um garoto que amava os Beatles, mas não os Rolling Stones. Também adorava Hilda Hilst. Ou HH, como a escritora era também conhecida. Tal como meu pai, eu gostava de música. Vivia música. Gostava também de escrever. Ao contrário de meu pai. Vivia de escrever. Escrevia para viver mas queria viver para escrever. Tinha eu um certo lirismo na alma, mas também algumas pedras no coração. Quando criança, pensava apenas em seguir alguma profissão que me possibilitasse escrever. Escrever, escrever, escrever. Não imaginava que anos mais tarde estaria em cima de morros, fazendo coberturas jornalísticas de acidentes, engarrafamentos, assaltos, sequestros, tudo de mais cruel da miséria humana. É.... Me tornaria um repórter.

Os anos compartilhando os sofrimentos alheios deram-me, no entanto, uma vontade louca de viver apenas meu próprio sofrimento. Meu próprio sofrimento. E eu queria me libertar dele. Talvez vivendo-o, eu me libertaria. Talvez – eu pensava - descobrisse como fazer isso por meio da magia do cinema. Do mundo no qual mergulhamos quando nos encontramos sentados naquelas cadeiras pretas acolchoadas, tendo os olhos fixos na grande tela.

É. Eu queria ser cineasta. Descobri isso quando me tornei jornalista. Havia encontrado na profissão de repórter apenas um atalho para chegar a trabalhar com a sétima arte. Eu me convencera disto. A vida profissional de repórter de rua realmente me havia envolvido numa crosta dura e hermética. Havia me acostumado com a morte sem novidades e de uma tal maneira que já não reservava choro sequer para os três ou quatro parentes próximos que vi desfalecerem nos anos que atuava como cronista da vida urbana, nome mais romântico, creio, para designar o trabalho de um repórter. Talvez este cotidiano, totalmente diferente todos os dias, mas sempre repleto de novas manchetes, me tenha deixado com uma escrita padrão. Uma fórmula pronta. Receita de bolo mesmo. No final das contas, todos os acidentes na Dutra tinham a mesma estrutura, tivessem acontecido em qualquer quilômetro que fosse. Era só alterar o número. - Entre mortos e feridos nem todos se salvaram.

Queria trabalhar com a imagem de uma maneira mais romântica, onde se pudesse, talvez, extrair de uma linda cena de amor um lindo diálogo entre dois personagens, um ensinamento para a vida. ‘Acho que ficou piegas este exemplo. Mas acredito que no fundo, você, leitor, entendeu o que eu quis dizer. Tá bom sem exemplos”.

Algumas coisas em minha vida foram sempre acontecendo, penso eu, com o intuito de me levar para onde eu realmente queria ir. Foi assim quando sai da cobertura de assuntos de Cidade para o Segundo Caderno. Pensei: “Estou mais próximo do cinema agora. Só falta comprar o ingresso”. E o filme reúne John Lennon e Hilda Hilst, com roteiro de Alcir Pécora. Na trilha sonora, a música "De frente pro crime": “Tá lá um corpo estendido no chão”.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Cantos da Cidade




São demais os cantos desta cidade. São demais! Muitos cantos desconhecidos até mesmo dos cariocas. O Monumento Estácio de Sá, no Aterro do Flamengo, parece ser um destes. Projetado em 1973 pelo arquiteto Lucio Costa, restaurado pela prefeitura do Rio em 2010 e adotado pela universidade que leva seu nome, o belo obelisco em formato piramidal, de onde se tem uma vista privilegiada da enseada de Botafogo e da baia de Guanabara, é a atual residência de um coletivo de artistas visuais e escritores, o “Caneta Lente e Pincel”, criado, há quatro anos, pelo escritor Renato Amado e pelo fotógrafo Guilherme Quaresma.
Deste modo, desde o sábado, dia 6 de abril, e até o dia 24 de maio, o carioca, o turista, os apreciadores das artes e amantes da Cidade Maravilhosa têm um motivo a mais para conhecer o Monumento Estácio de Sá: a exposição “Passeio”, assinada pelo coletivo, em cartaz no Centro de Visitantes do Monumento Estácio de Sá, no subsolo do lugar.
No total, são 33 obras criadas em duplas que reúnem sempre um escritor e um artista visual. O número de colaboradores é de 32, sendo 17 escritores, 14 artistas visuais e um músico. O resultado final de cada uma das duplas de criação é surpreendente. A exposição divide-se em duas partes: “Retrospectiva” e “Passeio”. A parte “Retrospectiva” traz obras de exposições passadas e, em suporte físico, obras do site do projeto. O processo criativo das obras originariamente postadas na internet funciona da seguinte maneira: uma vez o desenho é enviado ao escritor que se inspira e escreve seu texto; no turno seguinte é feito o contrário. Assim, é o escritor quem envia seu texto e o artista visual se inspira. Já nas obras “Passeio”, escritores e artistas, juntos, formularam uma obra única, em que a literatura e outra arte se fundem.
A exposição que está em cartaz no Monumento Estácio de Sá é uma experiência sensorial, da qual fazem parte palavras, cores, traços, pequenas instalações, além de imagens em vídeo. Elas estão justapostas em suportes e materiais, em harmonia, que oferecem uma amostra significativa do que de melhor se produziu nos últimos tempos pelo “Caneta, Lente e Pincel” nas diversificadas linguagens adotadas. Um trabalho digno de ser visto e acompanhado. A curadoria da exposição é assinada por Vivian Faingold, com produção executiva de Renato Amado e Danielle Schlossarek. Corra até o Aterro e vá conhecer dois belos cantos da cidade: O Monumento Estácio de Sá e o “Caneta, Lente e Pincel”. Este, de diversas e múltiplas vozes. A entrada é franca.


Artigo publicado na editoria de Opinião do Jornal O Dia em 11 de abril de 2013.


http://odia.ig.com.br/portal/opiniao/george-pati%C3%B1o-cantos-da-cidade-1.570751

domingo, 7 de abril de 2013

Filhos




Filhos



Os filhos irão crescer. A missão será cumprida. Ou mesmo comprida. Mas nada disso cansa. Canção. Uma canção simboliza a beleza, que se põe na mesa, nos quatro cantos do mundo. O ar condicionado condiciona um amor verdadeiro. Debaixo do chuveiro, eu viro marinheiro e canto. Canto em louvor aos rebentos que nasceram do ventre da mãe que é minha mulher. Me dá uma colher? Você, com a faca e o queijo na mão.

Os filhos irão crescer. Isso é fato. Não serão apenas um retrato, um arquivo, um vídeo estático. Na estante. Instantaneamente, invariavelmente, rapidamente, advérbio de modo, em movimento vão correr, a seu modo, moto contínuo, ato falho, raiz forte, quebrando o galho.

Os filhos irão crescer. E haverá um dia, apenas um, em que eles já terão crescido. E não será mais preciso dar a mão pra atravessar a rua. A travessia será outra. Intra-oceanos. E eles se despedirão com acenos, afagos, calores e afetos. Os filhos, só eles, sabem o quanto são queridos. Neste lado e no outro lado do mundo, ainda que mares e marés separem.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Na Praia de Falun




Este conto é livremente inspirado no texto “Reencontro Inesperado”, do poeta alemão Johann Peter Hebel, que viveu entre os anos de 1760 e 1826. É o recorte da história de um casal que vai passar o ano novo junto entre amigos e acaba se casando. Era pra ser apenas mais um show ao ar livre, na paradisíaca praia de Falun, uma comuna sueca localizada no condado de Dalama. A turma combinou um ponto de encontro e foi chegando aos poucos. Reuniram-se na casa de Gretha, que já esperava a todos ao lado de sua gatinha Alice Garbo. Gretha trabalhava no Ministério Público Sueco e morava no bairro de Gamla Stan, também conhecido como Cidade Velha. Após algumas vodcas absoluts, o grupo reunido partiu rumo àPraia de Falun para dar início às celebrações pelo ano novo.

No palco montado sobre as areias gélidas da Praia de Falun já se apresentava o grande cantor sueco Bjorn Borg. Dali a instantes chegaria a vez do grande cantor americano Steve Wonder se apresentar. Mais tarde um pouco cantariam juntos. Ambos são cantores negros, sendo Borg um pouco mais negro. Mas o que de fato importa nisso tudo é que o show foi o motivo pelo qual. Motivo pelo qual o casal ficou ali debaixo da árvore em frente a um famoso hotel de Falun. E motivo pelo qual andaram juntos, ao final do show dos cantores negros, pelas calçadas da comuna, ele a guiando carinhosamente.

No meio do caminho da larga via havia pedras. E havia muitas pessoas. Cerca de 400 mil segundo estimativas do batalhão local da Polícia Militar deFalun, além de muitos carros e muitos ônibus. E mesmo com todo aquele mar de gente na grande avenida daquela comuna nada ao redor era importante. Era como se o mundo tivesse parado. Só havia ela. Só havia ele. E quase sem querer foram deixando pra trás os amigos que os acompanhavam.

Quarteirão a quarteirão, a conversa seguia fluindo. Os temas eram dos mais variados, como a narrativa do prazer, da parte dela, de morar naCidade Nova e trabalhar na Cidade Velha deFalun. A certa altura, precisamente na esquina da avenida Hans Staden com a Rua Ingmar Bergman, às 23h33min de uma noite bastante fria do hemisfério norte, defronte do salão de cabeleireiro Petra Hultgren, motivado pelo sentimento do mundo que exalava naquele momento, ele virou-se pra ela e disparou:

- Quer se casar comigo?
- Sim!!!!!!! Disse ela, convicta.
- Aceita trocar o casamento por uma bicicleta Caloitesen? Testou ele a la Silvio Santos, famoso apresentador da TV Sueca.
- Não!!!!!!!, ela rebateu.

Era a senha. Ele teve a certeza da certeza dela e tirou as alianças do bolso. Os dois então correramna direção da paróquia da “Praça da Nossa Senhora dos Aflitos dos Países Nórdicos”, acordaram o padre e rezaram para que ele os casasse. A lua de mel, na sequência, foi passada em Folégandros, uma certa ilha grega paradisíaca, que ambos conheciam apenas de ouvir falar a partir de um conto apresentado por amigo comum. Antes da Grécia, porém, fizeram uma escala em Goiania, no Brasil, terra da prima da noiva, a famosa “DJ” Morgana, que recentemente conquistara o prêmio de “Melhor DJ do Ano Vip” em votação nas redes sociais.

Tempos depois, já de volta à Falun, nasciam os dois filhos do casal formado no show dos dois grandes cantores negros. O padrinho, Stevie Maravilha, muito famoso nos Estados Unidos, sequer os viu quando nasceram. Estava em seu país tocando em turnê. Mas muito satisfeito, enviou uma canção de presente às crianças: “You are the sunshine of my life”. No final das contas era pra ser apenas mais um show ao ar livre numa noite bastante fria de inverno no hemisfério norte. E foi.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Nova Mente






2013 ou 0123? Não importa. A ordem dos fatores não altera o produto. Reinício de caminhada. Nova mente, novamente!