Palavras à Milanesa

Palavras à Milanesa
Não! Este blog não é de gastronomia. Mas de palavras. À Milanesa. Palavras simples como este prato de arroz com feijão, bife e batata frita.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

O Vinho

O vinho, que era branco, enviúva da uva.
Quem vai salvá-lo?
Aqui na sala, sou eu quem falo.
Quando bebo, me calo.
Não tem jeito.
Remediado está.
O melhor acontece, deixa estar.
Deixa na sala de estar.

QUANDO ABRIL CHEGAR

Aos ventos, eventos mil.
Que não voltem as chuvas de abril.
Se voltarem que não tragam tragédias.
Que tragédias não nos traguem.
Em plena juventude, em pleno brilho.
No auge do processo criativo.
Que se chama vida.
Que se chama fogo!
E queima e arde!
Invade e arrebenta
Arrebata! Abril? Fechou.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A Falta Que Ela Nos Faz

Durante um mês fiquei sozinho com meus dois filhos. Minha mulher, que é professora de italiano, além de atriz, viajou à Itália a fim de fazer um curso de atualização para professores de italiano.
O período que passei com meus filhos, sem a mãe, foi muito rico. Participei mais ativamente da rotina deles. Diariamente, com apoio da empregada e dentro do possível, ajudava nas tarefas escolares, verificação das agendas, uniformes, lanches, etc. Tudo isso à distância. Tudo isso muito perto. Indiscutivelmente, fiquei mais próximo deles.
Todas as noites, quando eu chegava do trabalho, eles já estavam jantados, banhos tomados, e ansiosos, me esperando. Ansiosos, em parte, pela carência que a ausência da mãe desperta, e por outro lado, ansiosos pela chegada do pai.
A saudade da mãe foi grande. As crianças choraram algumas vezes. Clara, de 9 anos, a mais velha, principalmente. Francisco, de 5, também muito apegado à mãe, levou a situação na maciota.
Para matar as saudades da mãe as crianças faziam teatro pra me apresentar ou confeccionavam com papel, pilot, tesoura e adereços, pequenos e singelos presentes, desenhos e declarações para mãe.
Para dormir, invariavelmente e com a nossa cama vazia, eu migrava para um colchonete estrategicamente colocado no chão e ao lado da bicama das crianças. Tudo, regado às boas companhias da Clara e do Fran, que, após uma historinha qualquer, dormiam como anjinhos embalados pelo ar condicionado a pleno vapor, sem o qual a nossa saudade da mãe e da mulher acabaria por esvair-se em suor.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Réveillon

Todos no mesmo tom, na expectativa. Os convites já
chegaram. A melhor roupa vão tirar do armário. Todos os conflitos
internos vão aparecer. Mas é pra resolver todos os desejos secretos. Todos os decretos.
Todos juntos no mesmo barco.
A festa vai ser bonita. Se depender do externo, tudo certo. Se depender
do interno, alguns acertos. Vale respirar fundo. Vai ser bonita a
festa! Pela fresta todos olham. Ninguém se entrega, mas todos olham.
Colocam então o melhor sorriso à disposição. Às vezes é que o
sorriso não é são.
A noite que chega do 31 é derradeira. Disto ninguém se livra! O
ano vira para todos e para todos é recomeço. Não tem parada. Tudo está em pé.
Todos jogam confetes. Mas se é sério é sério.
Receba-se o ano que chega na praia, na lagoa ou mesmo na serra.
Mas seja onde for, todos estão em busca. Sob nova direção, leme na mão, o mar agora está pra peixe. Não se queixe: 2011 está aí, aproveite!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Fátima Guedes

Ouvir Fátima Guedes é benção pra alma.
Viola, gentilmente, os cinco sentidos, além do sexto.
É intuição pura, é calma, é melodia.
Noite, dia, todas as estações.
violão, voz de veludo é tudo.
E eu aqui, mudo, quieto, repleto, completo por ouvir.
Sentir Fátima Guedes no palco é um alento,um dilúvio de intensidade plena.
Viva à maior compositora do Brasil e uma grande intérprete!

MOTIVO

Eu canto por que o instante existe.
E minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não se, não sei. Não sei se fico ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.


Cecilia Meireles

sábado, 11 de dezembro de 2010

NO CORPO DO EMAIL CORPORATIVO

No corpo do email uma nova sensação. Poucas palavras, abreviadas, frases curtas, spams, exclamação! No título do assunto, a mensagem rápida, rasteira, reta e objetiva: sinto muito, não cumpri o cronograma estabelecido razoável para entrega do finado documento a tempo e a hora. Maldita planilha, nenhum homem é uma ilha, e eu me convenço. Palavras, palavras ao vento. Falsas promessas, requerimentos. Mas no instante instigante extasiante e eletrizante seguinte, eu me reivento, me motivo. Qual locomotiva, atropelo. É assim na vida corporativa. Por ela eu zelo. De tanto tentar tatear, encontrar o mar, reconhecer o ambiente e o meio, eu venço ! Inteiro. Sem lenço, documento, sem sobrenome, sobrecarga e sobremesa, só com a carteira de trabalho e uma certeza. Logo eu, que não quis atalho, mas fiz o caminho. Optei. Vinho tomei às vezes. Cerveja sempre! Naveguei. Fui ao mar distante, fiz mil viagens e voltei. Pela internet. E agora as almas estão lavadas. Algumas mais levadas, outras não. Mais leves. As armas guardadas, sem munição. Mouse e o cursor apontam nova direção. GPS na mão e a roupa suja já se lava em casa, dentro do coração, nossa morada. Namorada, nova estação, verão. Nisso eu escuto no rádio do carro a nossa canção. É Lô Borges chegando, com seu violão. Pára o mundo, mas eu não quero descer. Vale eternizar o momento, dedilhar o instrumento que o eterno Deus Mudança deu. Avançar!E quase que eu me esqueci que o tempo não para nem vai esperar. Vento de maio, rainha dos raios do sol, estrela qualquer lá no fundo do mar. Solar, Solar, Solar.